Título: Na Flórida, as minorias rejeitam republicanos
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 28/10/2004, Economia, p. 32

Como quase todas as minorias nos Estados Unidos ¿ a exceção está entre os cubanos, no caso dos grupos definidos por nacionalidade ¿ os brasileiros que vivem na Flórida, se tornaram cidadãos americanos e têm interesse no processo eleitoral tendem a eleger democratas. Não se sabe ao certo quantos são os eleitores de dupla cidadania ou os que renunciaram à cidadania brasileira antes de o Brasil aceitar o duplo registro. E nem mesmo se sabe quantos brasileiros vivem na Flórida, legal ou ilegalmente.

Nos círculos empresariais e diplomáticos, acredita-se que, no Sul do estado, onde está a gritante maioria de imigrantes, vivam cerca de 200 mil brasileiros, a maior parte dos quais em situação ilegal, seguidos por aqueles que têm visto de residência e não são cidadãos americanos e, por último, por aqueles que têm dupla cidadania.

30 mil brasileiros com cidadania americana

Segundo os Serviços de Cidadania dos Estados Unidos e Imigração, órgão do Departamento de Segurança Interior, de 1994 a 2003, 30 mil brasileiros obtiveram a cidadania americana em todo o país.

A maior parte dos imigrantes legalizados e, portanto, dos cidadãos, provavelmente está no condado de Miami, região que historicamente foi a primeira a atrair brasileiros. Os brasileiros ilegais estão espalhados pelo restante do Sul da Flórida, com ênfase crescente em Pompano Beach, onde há boa oferta de trabalho e o custo de vida é menor do que em Miami.

¿ Em geral, os brasileiros que vivem aqui não têm uma agenda política ¿ explica Eduardo Santos, que tem dupla cidadania.

Ele é de São Paulo e vive desde 1970 nos Estados Unidos, onde hoje é gerente para assuntos governamentais da empresa Hewlett-Packard. Tornou-se cidadão americano há cerca de 15 anos e registrou-se como republicano, por acreditar em políticas de conservadorismo fiscal. Mas seu voto agora é do democrata John Kerry:

¿ Bush não faz um bom governo nem na política fiscal, nem na política social ¿ diz Eduardo Santos.

Medo de Bush aparece até em consultório de psicanálise

O mineiro Flávio Moreira, de 49 anos, que é dono de uma agência de compra e venda de carros usados na região de Tampa, também vai votar em Kerry, citando a economia como fator decisivo.

¿ Minha agência é vizinha de uma cadeia nacional de venda de carros usados, da qual fui gerente ¿ diz ele, radicado nos Estados Unidos há 25 anos. ¿ Há dez anos, eles vendiam mais de cem carros por mês. Hoje, vendem a metade. A economia piorou com Bush.

A psicanalista Sonia Ionnides, que afirma ter ¿entre 50 e 60 anos¿ e atende em seu consultório em Boca Raton, diz que vota em Kerry por estar assustada com Bush:

¿ Ele está atrapalhando o mundo inteiro.

Sonia diz que mesmo no consultório a questão do medo e da insegurança diante do país tal como está aparece nas narrativas de seus pacientes.

Medo é o que sente todos os dias o advogado Max Whitney, de 47 anos, mineiro de ascendência americana. E o medo o faz votar em Kerry:

¿ Meu filho tem 19 anos e está no Batalhão Químico do Exército da Guarda Nacional da Flórida. Há seis meses está em Cabul, no Afeganistão. Quero muito que ele volte para casa ¿ diz Whitney.