Título: CPI apura ação de fundos para controlar teles
Autor: José Casado
Fonte: O Globo, 14/08/2005, O País, p. 11

Cinco fundações públicas fizeram acordo secreto com Citigroup para retomar comando de Telemar e Brasil Telecom

BRASÍLIA. Cinco grandes fundos de pensão estatais (Previ, Petros, Funcef, Telos e Sistel) fizeram um acordo secreto com o maior grupo financeiro do mundo (Citigroup) sobre o futuro da parceria no controle de duas empresas brasileiras de telecomunicações. Nesse acordo, as fundações públicas aceitaram realizar um negócio em 2007, mesmo que ele contrarie as leis nacionais, os regulamentos setoriais e as normas de órgãos federais com poder de fiscalização ¿ como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central, entre outros.

Comissão investiga 13 fundações públicas

É o que revelam documentos coletados por integrantes da CPI dos Correios na investigação sobre o uso político de fundos de pensão estatais pelo governo e sua base aliada. A comissão suspeita que pelo menos 13 fundações públicas (Previ, Petros, Funcef, Real Grandeza, Serpros, Portus, Eletros, Sistel, Centrus, Geap, Postalis, Refer e Telos) tenham contribuído com o sistema ilegal de financiamento político comandado pelo PT.

No centro do acordo entre as entidades estatais e o grupo privado americano estão a Telemar e a Brasil Telecom. Somadas, suas redes de telecomunicações cobrem mais de 80% do país.

Os fundos e outras instituições públicas, como o BNDES, detêm mais de 44% do controle acionário dessas empresas. O Citigroup resolveu vender sua participação e, pelo acordo fechado em março, os fundos aceitaram um duplo compromisso.

Um deles é que nenhum sócio poderá vender de forma isolada suas ações. O outro: caso não consigam um novo investidor até 2007, as fundações públicas se obrigam a comprar a parte do grupo americano na Telemar e na Brasil Telecom.

Se até lá não aparecer investidor para substituir o Citigroup, a Telemar e a Brasil Telecom, na prática, serão estatizadas ¿- um paradoxo, pois nasceram há sete anos no processo de privatização da Telebrás. Dois ex-ministros confirmaram ao GLOBO a existência de um projeto governamental para reativar a holding Telebrás.

Negociação foi acompanhada por Dirceu e Gushiken

Na CPI, suspeita-se que esse era um dos objetivos políticos do acordo dos fundos com o Citigroup, cuja negociação foi acompanhada pelo ex-chefe da Casa Civil José Dirceu e pelo chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos Luiz Gushiken.