Título: O dilema da hora
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 15/08/2005, Panorama Político, p. 2

Os partidos de oposição se reúnem hoje para tentar acertar o passo. Os tucanos querem conter o ímpeto dos pefelistas. Para os tucanos não é adequado falar em impedimento do presidente Lula. Mas o PFL só pensa nisso. Seu presidente, o senador Jorge Bornhausen (SC), encomendou a três advogados pareceres sobre a existência de condições constitucionais para iniciar o processo.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), argumenta que a oposição não pode fugir da crise, mas também não pode ser fonte de crise. Diz ainda que é um erro a oposição adotar como sua bandeira o impeachment, pois um processo para abreviar o mandato do presidente da República só deve ocorrer se este for expressão do desejo da sociedade.

¿ Há decepção com o governo Lula, mas não existe um clamor pelo impeachment ¿ diz Arthur Virgílio.

Os tucanos, diante das proporções da crise, já trabalham com a expectativa de voltar ao poder em 2006. Isso tornou-se palpável depois da divulgação da pesquisa Datafolha, na qual o prefeito de São Paulo, José Serra, venceria Lula no segundo turno. Para o PSDB, sem prejuízo da apuração das denúncias, talvez esta seja a hora de puxar o freio de mão. Afinal, não interessa a quem pode reassumir o governo federal manter a radicalização atual.

Os pefelistas têm sido mais eloqüentes ao tratar de eventual crime de responsabilidade do presidente da República. Eles não têm a mesma preocupação de evitar um duro enfrentamento. Sua expectativa é a de construir uma terceira alternativa, que rompa com a polarização entre o PT e o PSDB. O acirramento do embate entre petistas e tucanos pode até viabilizar essa candidatura.

Na semana passada, os presidentes do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e do PFL, Jorge Bornhausen, conversaram sobre a construção desse projeto comum. Nos próximos dias um encontro mais amplo será marcado e a idéia é realizar em breve uma manifestação conjunta reunindo aqueles que não querem ver nem o PMDB nem o PFL como força auxiliar de petistas ou tucanos.

Também entre os petistas, a crise está sendo analisado no âmbito da sucessão presidencial. A maioria dos petistas acredita que o partido não pode abrir mão da candidatura de Lula à reeleição. Alegam que por mais fraco que esteja, Lula é o melhor puxador de votos para os candidatos nos estados, para o Senado e para a Câmara.

Um grupo de deputados petistas tentou filiar-se ao PV. Eram tantos que foram desestimulados. Os verdes temiam que o partido se transformasse numa dissidência do PT.

O PCdoB pode virar tendência do PSB

Integrantes da direção do PCdoB estão discutindo uma fusão com o PSB. Os comunistas avaliam que não vão conseguir reduzir a cláusula de desempenho de 5% para 2% dos votos para a Câmara e nem aprovar a lei que permite a criação de Federações de partidos.

O PCdoB fez 2,25% dos votos em 2002. Se repetir essa performance em 2006 não terá mais direito a programa de propaganda partidária no rádio e na televisão. Não terá funcionamento parlamentar. Nem receberá recursos do Fundo Partidário. No ano passado foram R$825,4 mil.

O PSB, que fez 5,27% dos votos em 2002, quer fortalecer sua estrutura. Os socialistas sempre sonharam em ser uma alternativa para a esquerda. Além do mais, muitos avaliam que o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, deveria ser candidato à Presidência da República caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desista da reeleição.

As executivas do PSB e do PCdoB já realizaram reunião conjunta. Mas devido às resistências internas, a fusão está sendo tratada com cautela em ambos.

Pulando fora

O senador Cristovam Buarque (PT-DF) está abrindo a fila. Outros cinco deputados devem anunciar nos próximos dias que vão deixar o partido. João Alfredo (PT-CE) diz que este número pode chegar a 12. Estão indo para o PSOL. Chico Alencar (PT-RJ) afirma que somente a punição dos envolvidos ¿em operações clandestinas e criminosas¿ evitará que os 22 deputados do bloco de esquerda procurem a porta da saída.

LÍDERES do PT estão avaliando com seriedade a proposta da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) para antecipar as eleições presidenciais. Os petistas dizem que talvez esta seja a oportunidade para sair da porta da delegacia de polícia e ir para o terreno da política.

O GRUPO que comandava o PMDB no governo Fernando Henrique voltou a trabalhar junto na Câmara. Está articulando a volta do deputado Geddel Vieira Lima (BA) para o cargo de líder. Pelo acordo, que está sendo costurado, Geddel não faria oposição nem defenderia o governo Lula.

E-mail para esta coluna: ilimar@bsb.oglobo.com.br

A lista do eleitor

Na reunião ministerial, o ministro Márcio Thomaz Bastos apresentou a proposta do governo de reforma política. O texto, que está na Casa Civil, sugere que o país adote o modelo belga de votação em listas partidárias. Nele, o eleitor pode votar na lista do partido ou no candidato, que por esse mecanismo sobe na lista. A proposta mantém a cláusula de barreira em 5% e sugere medidas para reduzir o custo das campanhas.