Título: OPOSIÇÃO SE REÚNE PARA UNIFICAR DISCURSO
Autor: Lydia Medeiros e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 15/08/2005, O País, p. 3

Líderes que participarão de encontro hoje decidem afastar discussão sobre impeachment

BRASÍLIA E RECIFE. Pela primeira vez desde que a crise política começou, os partidos de oposição se reunirão hoje, no gabinete da Liderança do PFL no Senado. Já existe consenso de que não é o momento de se falar em impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e de que é preciso dar prioridade às investigações nas CPIs instaladas no Congresso.

O encontro deve alinhar o discurso dos oposicionistas, mas não será conclusivo. O pequeno PSOL da senadora Heloísa Helena (AL), por exemplo, defende uma consulta à população, aproveitando o referendo sobre o desarmamento, sobre a antecipação das eleições de outubro de 2006. Uma idéia até agora sem respaldo dos grandes partidos, o PSDB e o PFL.

¿ A antecipação de eleições é tão precipitada como falar em impeachment, porque também rompe regras. O Brasil deve aprender a ir até o fim da linha ¿ avalia o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

PFL quer abrir contas de campanha de Lula em 2002

O PDT vai reunir o conselho político do partido só na quarta-feira, mas o senador Jefferson Péres (AM) também vai levar à reunião da oposição a idéia de antecipar em seis meses as eleições para presidente, deputado federal e senador. Para Péres, o caminho do impeachment é traumático. Outra opção, diz, é a de manter o presidente no cargo à frente de um governo fraco, independentemente de cassações de mandatos parlamentares.

¿ O terceiro caminho seria antecipar as eleições, respaldado pelo povo na consulta que aproveitaria o referendo do desarmamento. Se o povo diz não, dá fôlego ao presidente. Se diz sim, a crise diminui ¿ afirma Péres.

O PV, que se reuniu no sábado para debater a crise, vai sustentar no encontro que a palavra impeachment não seja mencionada, se não houver um suporte legal e popular.

¿ Sem isso, é dar ao governo a chance de ser vítima, que é tudo o que precisa nesse momento ¿ diz o deputado Fernando Gabeira (RJ).

O líder do PFL, senador José Agripino Maia (RN), anfitrião do encontro, vai pedir apoio dos partidos a uma representação à Procuradoria Geral da República ou ao Tribunal Superior Eleitoral para reabrir as contas da campanha de Lula em 2002. Outra preocupação do senador é a paralisia do governo e do Congresso, particularmente da Câmara, onde os líderes governistas estão sob suspeita nas CPIs dos Correios e do mensalão.

¿ Uma hipótese é a própria oposição assumir a condução de uma pauta com votações de interesse do país

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse ontem, no velório do presidente do PSB, Miguel Arraes, que a discussão sobre a hipótese de impeachment de Lula não é adequada agora.

¿ Essa discussão do impeachment só pode prejudicar as investigações. O caminho mais correto é aprofundar as investigações ¿ disse o governador, que se encontrou com Lula numa sala no Palácio do Campo das Princesas, onde foi o velório.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne às 9h30m de hoje com os ministros da coordenação de governo ¿ o ¿gabinete de crise¿ ¿ para analisar duas propostas: um novo pronunciamento à nação e a convocação do Conselho da República. Apesar de ter feito um discurso de dez minutos na abertura da reunião ministerial de sexta-feira passada, onde disse estar se sentindo traído e pediu desculpas à população, Lula sofre pressões de ministros e assessores para que fale de novo ao público desta vez em cadeia de rádio e televisão.

¿ O presidente nos disse que se sente agredido, que gostaria de ir para a disputa política, mas que tem de pensar na governabilidade e evitar o embate político ¿ disse um dos participantes da reunião ministerial de sexta-feira.

Thomaz Bastos e Tarso Genro defendem novo pronunciamento

Parte do ¿gabinete de crise¿ dá como certo um novo pronunciamento de Lula, argumentando que o presidente tem que se dirigir formalmente à nação e ser mais direto ao dizer quem o traiu. A tese é defendida por ministros como Márcio Thomaz Bastos (Justiça), além do presidente nacional do PT, Tarso Genro.

¿ O presidente foi bem na sexta mas, pela natureza do pronunciamento, haverá outros ¿ sinalizou Tarso Genro, que deve se encontrar amanhã com Lula.