Título: DEUS NOS LIVRE QUE CHEGUE ATÉ LÁ¿
Autor: Dom Geraldo Majella
Fonte: O Globo, 14/08/2005, O País, p. 13

Essa crise pode terminar com o impeachment do presidente Lula?

DOM GERALDO: Se vierem dados novos, que ninguém sabe... Mas eu não acredito que chegue até lá. E digo, mesmo: Deus nos livre que chegue a tamanha proporção. Deus queira que, pelo menos, se possa partir para uma vida nova, uma reforma do Estado, reforma política, administrativa.

Essas reformas seriam a saída para a crise?

DOM GERALDO: Sim, seria uma saída. Mas que aqueles que tiverem culpa, que entraram em posse do dinheiro público, não apenas sejam condenados, mas que tenham a obrigação de devolver os recursos.

A assembléia da CNBB vai discutir temas polêmicos ligados à biossegurança. Qual deve ser a posição dos bispos?

DOM GERALDO: A assembléia quer se pronunciar reafirmando os princípios éticos e evangélicos sobre a vida, sobre a dignidade da vida, a sua intocabilidade. Ninguém pode interromper a vida humana, desde a sua concepção até a morte natural. Vamos fazer uma declaração reafirmando a nossa posição.

Dom Cláudio Hummes já disse que o presidente tem o seu próprio jeito de manifestar sua fé católica. O senhor acha que esse é um ponto favorável para o presidente?

DOM GERALDO: É, ele tem o seu jeito. E tem reafirmado de vez em quando a sua fé.

Qual a sua opinião sobre a pesquisa que mostrou que a Igreja Católica, apesar de perder muitos fiéis, também está ganhando novos adeptos?

DOM GERALDO: Hoje a religião tem sido vista muito subjetivamente. Como alguma coisa que é de escolha pessoal. Antes de conhecer profundamente a doutrina, a pessoa olha a religião como um bem do qual pode tirar aquilo que lhe é favorável, aquilo que lhe agrada. Esse trânsito religioso está na base desse subjetivismo que toma conta de tudo. As pessoas estão procurando. Elas não buscam uma religião simplesmente por uma convicção e diante daquela proposta de doutrina, diante da proposta do evangelho. Mas procuram para satisfazer a si mesmas. Daí essa mobilidade bastante grande.

O que a Igreja Católica poderia fazer no Brasil para estancar a evasão de fiéis?

DOM GERALDO: Só temos um meio. É o de levar os nossos fiéis a um conhecimento mais profundo da sua fé, para que tenham condições de dar a sua adesão. Primeiro, porque nem Deus obriga ninguém a seguir aquilo que ele revelou. Ele quer que a pessoa tenha condições de conhecer e dar a sua resposta.

O Papa Bento XVI vem ao Brasil no próximo ano?

DOM GERALDO: Nós fizemos um convite para que ele venha ao Congresso Eucarístico Nacional, que será em Florianópolis em maio de 2006. Ele respondeu, por carta, que não via condições de atender ao convite. Mas ele tem muita vontade de conhecer mais profundamente o Brasil.