Título: Uma tropa de choque para defender o presidente
Autor: Ilimar Franco e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 14/08/2005, O País, p. 16

Ministros do chamado comitê de crise são encarregados de conversar com oposição, empresariado e movimentos sociais

BRASÍLIA. Nas últimas horas, com o recrudescimento da crise política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva montou uma tropa de choque para articular a defesa de seu mandato. Na avaliação do Planalto, não há ligação direta entre o presidente e as irregularidades cometidas pelo PT. Na noite de quinta-feira, o próprio Lula reconheceu, em conversa reservada com poucos ministros, que após as revelações de Duda Mendonça e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pela primeira vez as denúncias chegaram perto dele.

Comitê de crise aconselhou um discurso conciliador

Lula montou um comitê de crise formado pelos ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Antonio Palocci (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil), Ciro Gomes (integração Nacional) e Jaques Wagner (Coordenação Política). Foi esse grupo que o aconselhou a fazer um discurso conciliador na abertura da reunião ministerial de sexta-feira, em vez de lançar mais um desafio contra a oposição. Cada um dos conselheiros tem uma missão e trabalha para preservar o mandato do presidente e impedir que a crise política contamine a economia.

¿ Não existe espaço para um impeachment. É uma temeridade, poderia trazer conseqüências graves ao país. A sociedade tem dado demonstrações de que deseja que o país continue com sua normalidade democrática ¿ diz Jaques Wagner.

Na tropa de choque em defesa do presidente, Palocci foi encarregado de intensificar o diálogo com as elites econômicas e a mídia. Seu discurso é semelhante ao feito por Lula na sexta-feira: ¿É obrigação de todos não permitir que a crise traga problemas para a economia e a continuidade dos programas sociais¿. Dilma recebeu a tarefa, segundo um assessor, de chicotear os ministros para fazer o governo andar. A reunião ministerial reforçou a necessidade de o governo sair da paralisia administrativa provocada pela crise.

A estratégia também prevê intensificar contatos com os movimentos sociais. O chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, tem a orientação de priorizar na agenda reuniões e atos que demonstrem que o presidente continua gozando da simpatia popular. Esses encontros, reforçados pelas pesquisas de opinião pública, serviriam para conter a oposição e inibir ações mais radicais. Na pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira, 63% dos ouvidos disseram que o Congresso não deve abrir um processo de impeachment contra Lula.

O governo também quer garantir apoio parlamentar para enfrentar uma votação no Congresso, se for o caso. Seus emissários estão em contato com setores moderados da oposição. Thomaz Bastos foi encarregado de conversar com dirigentes do PFL e do PSDB paulista.

Já Ciro Gomes está mantendo contatos com o PSDB de Minas Gerais e do Ceará em busca de uma saída.