Título: Joá está à venda, falta é comprador
Autor: Paula Autran e Selma Scmidt
Fonte: O Globo, 14/08/2005, Rio, p. 20-21

Para secretário, a legislação urbana impede o desenvolvimento da área

De São Conrado à Barrinha, uma sucessão de muros e portões malcuidados, muitos com placa de ¿vende-se¿, denotam o abandono da Estrada do Joá, que tinha tudo para ser uma das áreas mais valorizadas do Rio. Ou quase tudo. Moradores, corretores e até o secretário municipal de Urbanismo, Alfredo Sirkis, vêem ali um grande entrave para a melhor ocupação dos terrenos: a legislação urbana.

¿ No Joá, como no Alto da Boa Vista, o problema é a obtusidade da regulamentação urbanística, que não facilita o investimento nessas áreas. Estamos tentando rever a rigidez cadavérica da legislação local, feita de forma elitista para privilegiar a construção de mansões, na elaboração do novo plano diretor da cidade ¿ diz Sirkis.

Secretário quer autorizar pequenos condomínios

Sirkis defende a criação de mecanismos que permitam dar maior agilidade na mudança de uso dos terrenos, assim como na conversão desses locais de ZR-1 (Zona Residencial 1) para ZR-3 (Zona Residencial 3).

¿ Assim, em vez de residências unifamiliares, poderíamos permitir pequenos condomínios fechados em alguns lotes, o que ajudaria a ocupar os terrenos ¿ explica Sirkis, acrescentando que um substitutivo será enviado para apreciação dos vereadores em outubro.

Segundo o secretário, nos últimos anos a prefeitura tem recebido pedidos de mudança de uso de residências para casas de festa, inclusive com abaixo-assinado de vizinhos a favor:

¿ Gostaria de poder resolver a situação com uma canetada, mas para isto é preciso aprovar uma lei na Câmara.

Enquanto isso não acontece, o Joá vai se valendo de cercas elétricas, guaritas e seguranças para se proteger.

¿ A degradação da Estrada do Joá é visível. Embora paguemos um dos mais altos IPTUs, é uma região abandonada. Esgoto, por exemplo, chegou há dois anos. Segurança só tem quem mora em condomínios ¿ conta Robert Patrick, dono do restaurante Hansl, que desde 1967 funciona num condomínio no alto do Joá.

O Hansl foi um dos poucos a resistirem.

¿ Aqui não há comércio. O Tanaka, o Titanic, o Cassino Royale... Todos os estabelecimentos que foram abertos fecharam. Mesmo as casas que faziam festas não fazem mais ¿ acrescenta Robert Patrick.

Rubem Vasconcellos, da Patrimóvel, também defende mudanças na legislação:

¿ Não há mais como vender imóveis ali sem ser em condomínios. As casas no Joá, como no Alto, ficaram inviáveis e não valem nada, a não ser nas ruas que têm cancelas. Mas ainda dá tempo de resolver os problemas. Basta criar um Projeto de Estruturação Urbana (PEU).S