Título: No rastro do dinheiro de Duda
Autor: Jailton de Carvalho e Bernardo de La Peña
Fonte: O Globo, 16/08/2005, O País, p. 3

PF pede ao Supremo bloqueio e rastreamento de contas do publicitário no exterior

APolícia Federal (PF) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que determine o rastreamento das movimentações financeiras e o bloqueio da conta da empresa Dusseldorf mantida no BankBoston em Miami pelo publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes. Por meio da Dusseldorf, uma offshore com sede nas Bahamas, Duda diz ter recebido R$10 milhões do empresário Marcos Valério de Souza. O dinheiro era para pagar dívidas do PT com o publicitário referentes a campanhas eleitorais de 2002. A PF também pediu ao STF o rastreamento das movimentações de outras duas contas no BankBoston usadas por Duda e Zilmar.

Caso o Supremo determine o bloqueio, a ordem será encaminhada ao Ministério da Justiça, que por sua vez tentará conseguir o congelamento junto ao Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Levantamento feito por técnicos da CPI dos Correios mostra que os R$10 milhões passaram por pelo menos 21 empresas ou bancos ¿ dos quais 14 já apareceram nas investigações do escândalo ¿ antes de ficarem disponíveis para Duda, responsável pela campanha vitoriosa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. No total, técnicos da CPI conseguiram identificar a origem de cerca de US$3,4 milhões, mas não chegaram ainda aos responsáveis pelas transferências.

Relatório reservado do Instituto Nacional de Criminalística informa que, com as contas no BankBoston, Duda e sua sócia fizeram também transações de US$1,6 milhão com a Agata Internacional, uma offshore com sede nas Ilhas Virgens Britânicas. A Agata aparece como titular de uma conta no MTB Bank administrada pelo doleiro Roger Clement Heber, de São Paulo. Pelos dados da extinta CPI do Banestado, a Agata movimentou US$600 milhões entre 1997 e 2003, quando o MTB Bank foi incorporado pelo Hudson Uniteds Bank.

O pedido de rastreamento, feito sexta-feira, se estende também a cinco contas bancárias que abasteceram a Dusseldorf. Caso se constatem irregularidades nas transações entre Duda, Zilmar, Agata Internacional e as fontes de recursos da Dusseldorf, a PF solicitará também o bloqueio de todas essas contas.

¿ Existem nesses esquemas fortes indícios de ocultação da origem e do destino de capitais ¿ disse um dos investigadores do caso.

A PF decidiu pedir o congelamento da conta da Dusseldorf depois que Duda Mendonça confessou na CPI dos Correios, na quinta-feira passada, que abriu a conta para receber R$10 milhões de Valério. O empresário teria sido designado pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para pagar despesas do partido com dinheiro de caixa dois.

O delegado Luiz Flávio Zampronha, responsável pelo inquérito sobre o suposto caixa dois petista, quer saber de onde saíram os recursos usados por Valério para quitar dívidas com Duda e fazer repasses a parlamentares da base governista. Zampronha tratou do assunto no fim da tarde de ontem com o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza.

Toninho da Barcelona: esquema desde 1989

A polícia solicitou também o mapeamento das transações entre Duda, Zilmar e o doleiro Roger Clement, da Agata Internacional, porque as operações entre os três obedecem aos mesmos padrões de remessas e recebimentos ilegais de recursos investigado pela Operação Farol da Colina, da PF, e pela CPI do Banestado. Relatório reservado do Instituto Nacional de Criminalística da PF informa que Duda fez nove ordens de pagamento para a Agata no valor total de US$713.300. As transferências foram registradas entre 19 de maio de 1999 e 30 de maio de 2000.

O laudo da PF também mostra que, de 28 de fevereiro de 1997 a 12 de julho de 2000, Zilmar repassou US$726.300 à Agata. Neste mesmo período, mais especificamente entre 10 de junho e 18 de dezembro de 1998, a Agata transferiu US$182.300 para a conta de Zilmar no BankBoston nos EUA. Para a PF, essas transações são similares ao sistema dólar-cabo, usado por doleiros para mandar ou receber dinheiro do exterior longe do crivo do Banco Central (BC) e da Receita Federal.

A Polícia Federal também decidiu interrogar esta semana o doleiro Antônio Claramunt, o Toninho da Barcelona, que disse ter informações sobre remessas de petistas ao exterior desde a eleição de 1989.