Título: Severino ataca piso aprovado 'na orgia do Senado'
Autor: Cristiane Jungblut/Ilimar Franco/Cláudia Lamego
Fonte: O Globo, 16/08/2005, O País, p. 10

Governo decide iniciar mobilização na Câmara para restabelecer mínimo de R$300; Jaques Wagner procurará líderes

RIO e BRASÍLIA. Em visita ontem ao Rio, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) criticou o mínimo de R$384 aprovado "na orgia do Senado". Segundo ele, o valor do salário-mínimo deve ser aprovado de acordo com o que municípios, estados e pequenas empresas possam pagar, sem prejudicar a economia.

- Isso foi um caso impensado do Senado. O mínimo tem que ser o que foi aprovado na Câmara e não na orgia do Senado - disse Severino.

Reunido ontem por quase três horas com o chamado gabinete de crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu iniciar uma mobilização para que a Câmara restabeleça o salário-mínimo de R$300, derrotando o valor de R$384 aprovado no Senado.

O coordenador político do governo, Jaques Wagner, começou a conversar com governadores e parlamentares da oposição sobre os prejuízos para o país se mantida a proposta aprovada no Senado. Hoje, Lula toma café da manhã com Severino. À tarde, Wagner visita líderes de partidos.

Na reunião, o governo decidiu usar a votação do mínimo para reorganizar a base. A estratégia é tentar convencer os deputados de que a Câmara, abalada pelo escândalo do mensalão, daria uma demonstração de responsabilidade ao aprovar o salário de R$300.

O governo tem até mesmo um plano B caso fracasse na tentativa de rejeitar o mínimo de R$384. Nesse caso, deixará caducar a medida provisória no dia 19 e mandará outra proposta, com pedido de urgência, para ser votada. Mas haverá um inconveniente: nesse período, trabalhadores poderão ser contratados pelo mínimo de R$260.

O gabinete de crise recomendou a Lula que não volte a falar sobre a crise antes que surja um fato novo relevante. O presidente respondeu que seu discurso de dez minutos, na sexta-feira, na reunião ministerial, foi suficiente.

- Não vou convocar uma rede de rádio e televisão para fazer pronunciamento a todo momento. Se tiver um fato relevante, ai convoco - disse Lula, segundo um dos ministros presentes ao encontro.

Participaram da reunião, além de Wagner, os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), Antonio Palocci (Fazenda) e Ciro Gomes (Integração Nacional) e o vice-presidente José Alencar.

www.oglobo.com.br/pais