Título: SEM REAJUSTE, LUCRO RECORDE
Autor: Ramona Ordoñez/Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 16/08/2005, Economia, p. 19

Resultado da Petrobras sobe 40% no primeiro semestre, para R$9,9 bilhões

Apesar de não reajustar os preços dos combustíveis desde novembro do ano passado, a Petrobras encerrou o primeiro semestre de 2005 com um lucro líquido de R$9,951 bilhões - resultado 40% superior aos R$7,091 bilhões em igual período de 2004. O desempenho da companhia equivale ao dobro do registrado pela Vale do Rio Doce (R$5 bilhões) e a quase quatro vezes o resultado líquido de Bradesco (R$2,6 bilhões) e Itaú (R$2,475 bilhões), os dois maiores bancos privados do país. As principais razões para o desempenho recorde da estatal, segundo analistas, foram a alta dos preços do petróleo no mercado internacional, que favoreceu as exportações da estatal; o aumento da produção interna; e a valorização do real frente ao dólar.

Apesar do patamar histórico, o resultado semestral da Petrobras ficou abaixo dos cerca de R$11 bilhões esperados pelo mercado. Apenas no segundo trimestre, a companhia lucrou R$4,9 bilhões. O desempenho foi menor que os R$6 bilhões esperados pelos analistas, mas cresceu 49% acima do mesmo trimestre do ano passado.

De janeiro a junho, a receita líquida da Petrobras atingiu R$ 62,2 bilhões, num crescimento de 22% em comparação com os R$51,1 bilhões do primeiro semestre de 2004. O excelente resultado, segundo a própria estatal, permitiu um investimento total de R$11 bilhões no primeiro semestre. A maior parte foi aplicada no aumento da produção de petróleo nacional. Com isso, a companhia bateu em junho o terceiro recorde sucessivo de produção.

Produção maior ajudou exportação

O salto na produção também impulsionou as exportações de petróleo e derivados da estatal, que de abril a junho atingiram US$2,2 bilhões, contra importações de US$1,3 bilhão. O saldo comercial da companhia chegou a US$900 milhões. O volume de exportações líquidas, deduzidas as importações, totalizaram 148 mil barris diários de petróleo e derivados.

Depois de terminar 2004 em queda, a produção nacional da Petrobras aumentou 12% no primeiro semestre. Também contribuiu para o resultado a valorização do real frente ao dólar, que em seis meses alcançou 11,45%. A produção nacional de petróleo no período foi de 1,63 milhão de barris diários contra 1,46 milhão em igual período anterior, em razão da plena operação das plataformas P-43 e P-48, ambas instaladas na Bacia de Campos.

No mercado de ações, os papéis da Petrobras tiveram desempenho modesto ontem (as preferenciais subiram 0,5% e as ordinárias caíram 0,5%), mas no ano apresentam um bom desempenho este ano. Até ontem, as ações preferenciais e ordinárias da estatal registravam valorização de 31,12% e 36,16%, respectivamente. O ganho é muito superior ao desempenho do Ibovespa, o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, que subiu apenas 4,49%.

A expectativa resultados promissores em 2005 já se reflete nos ganhos dos fundos FGTS- Petrobras. Apenas nos 11 primeiros dias do mês, segundo o site Fortuna, o ganho dos aplicadores do fundo era de 9,42%, superior à rentabilidade do FGTS- Vale (5,46%) e bem maior que a dos fundos de ações (3,76%). No ano, o FGTS-Petrobras também lidera, com rendimento de 31,82%, contra 10,71% dos fundos renda fixa e 10,40% no FGTS-Vale.

Na opinião de analistas, como Luiz Otávio Broad, da corretora Ágora Senior, as ações da Petrobras devem continuar o ciclo de alta. Os principais motivos são a perspectiva de aumento da produção de petróleo em 13,9% este ano; preço médios dos derivados acima das cotações do ano passado; e grande possibilidade de a estatal repassar os novos valores do barril de petróleo.

- Embora exista uma volatilidade a curto prazo, o barril de petróleo deve estabilizar-se mas ficar mais caro. E a Petrobras, mesmo com alguma defasagem de tempo, repassa aos preços de seus derivados as altas do mercado mundial. Isso significa que os resultados ainda podem melhorar mais nos próximos trimestres - lembrou.

Segundo a Petrobras, em 30 de junho último o valor da companhia no mercado alcançou o recorde de R$126,5 bilhões, um aumento de 40% em relação a 30 de junho do ano passado. O endividamento consolidado líquido, sob o efeito da queda do dólar, em 30 de junho de 2005 alcançou R$33,3 bilhões, uma redução de 12% em relação a março de 2005.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, assegurou ontem que o Brasil vai continuar investindo no setor energético boliviano, apesar da Lei dos Hidrocarbonetos, que em maio elevou os impostos sobre a produção de petróleo e gás naquele país para até 32%. Depois de se reunir com o chanceler boliviano, Armando Loaiza, Amorim disse que a Petrobras chegará a um acordo com a Bolívia "que será benéfico para ambas as partes".

(*) Com agências internacionais

www.oglobo.com.br/petroleo

INCLUI QUADRO: POR DENTRO DOS NÚMEROS DA ESTATAL