Título: CPI QUER QUEBRAR SIGILO DE 'OFFSHORE' DE DUDA
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 17/08/2005, O País, p. 13

Comissão suspeita que empresa teria recebido mais depósitos que os declarados pelo publicitário

BRASÍLIA. A CPI dos Correios pretende quebrar o sigilo bancário da empresa Dusseldorf, que pertence ao publicitário Duda Mendonça, no Banco de Boston, em Miami. Foi pela conta dessa offshore que o publicitário responsável pela campanha vitoriosa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, recebeu cerca de R$10 milhões do esquema organizado pelo então tesoureiro do PT Delúbio Soares com o empresário Marcos Valério, responsável pelos pagamentos a políticos aliados do governo.

Doleiro será ouvido pela comissão em Belo Horizonte

Embora o publicitário baiano tenha se oferecido para prestar informações à CPI sobre os depósitos, os integrantes da comissão pretendem pedir a quebra do sigilo bancário da conta porque Duda só estaria disposto a fornecer dados sobre os depósitos supostamente feitos pelo esquema coordenado por Valério. A CPI, entretanto, teria recebido informações de que a conta da Dusseldorf recebeu mais depósitos do que Duda informou no seu depoimento na semana passada.

Offshore sediada nas Ilhas Bahamas, um paraíso fiscal, a Dusseldorf foi criada, segundo Duda, para que o publicitário pudesse receber o dinheiro que ainda não lhe havia sido pago pelo PT referente à campanha eleitoral de 2002.

- A conta do Duda teve um movimento maior do que se imagina. Ele queria abrir apenas aquilo que estaria associado às transferências feitas por Valério - explicou ontem um integrante da CPI.

A CPI estuda a possibilidade de ter acesso aos dados de outras empresas offshore, como a Trade Link Bank, sediada nas Ilhas Caymann, outro paraíso fiscal, de onde saíram pelo menos dez depósitos no valor total de US$897 mil para as contas do publicitário baiano. O doleiro Haroldo Bicalho, preso pela Polícia Federal durante a operação Farol da Colina, no ano passado, que teria operado por meio da offshore, deve ser ouvido pela CPI na sexta-feira em Belo Horizonte.

De acordo com as informações obtidas pela CPI, a maioria dos países por onde o dinheiro de Valério passou tem acordo de troca de informações com o Brasil. Um cruzamento de dados feito pela comissão e pelo Ministério Público indica que o dinheiro passou por pelo menos 21 bancos e empresas. Antes de chegar à conta de Duda, o dinheiro passou, por exemplo, pelo BAC Florida Bank, pelo Banco Rural Europa e pelo Israel Discount Bank of New York.

CPI pode pedir quebra de sigilo nos Estados Unidos

Pelas informações recebidas por integrantes da CPI que atuam em parceria com a Secretaria Nacional de Justiça, do Ministério da Justiça, no caso dos Estados Unidos o pedido de quebra de sigilo feito por uma comissão parlamentar de inquérito seria respeitado pelas autoridades americanas. A dificuldade maior seria para receber informações do Uruguai, porque a comissão investiga ainda outras transferências feitas por Valério.

A SMP&B mandou dinheiro para a Athenas Trading e para a Guaranhus Empreendimentos Ltda. As duas receberam, respectivamente, R$1,967 milhão e R$5,708 milhões da agência de Valério e remeteram o dinheiro para o Uruguai. A transação feita pela Athenas foi para mandar o dinheiro para Leagger S.A., que tem como procurador Wladimir Santos, também sócio da Athenas no Brasil. Já a Guaranhus mandou recursos para a Esfort Trading S.A., detentora de 99% das suas ações.

Legenda da foto: O PUBLICITÁRIO DUDA Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, no depoimento na CPI dos Correios