Título: 'É o que dizem...'
Autor:
Fonte: O Globo, 17/08/2005, O País, p. 5

Em entrevista, Jeany Mary reconhece que sua agenda assusta

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Em sua primeira aparição desde que surgiu como personagem da crise política, Jeany Mary Corner admitiu ter prestado serviços para políticos em Brasília. Em entrevista ontem ao "Jornal Nacional", da TV Globo, ela negou ser agenciadora de prostitutas. Nascida no sertão do Ceará, disse que há 15 anos promove coquetéis e recepções, mas deixou no ar a atividade das garotas que trabalham nesses eventos.

- Não posso afirmar isso porque depende delas. Minha função é fornecer a recepcionista. Se ela se engraçar com alguém, é problema dela. Não tenho nada a ver com isso - disse, ao ser perguntada sobre seu envolvimento em atividades extra-eventos.

Ela afirmou saber de festas promovidas em Brasília pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Sem mostrar o rosto, Jeany confirmou que em novembro de 2003 o segundo andar do Grand Bittar, um hotel de luxo de Brasília, foi fechado para uma comemoração. Embora tenha confirmado a festa, disse não ter participado de sua organização. Disse que já organizou eventos para Ricardo Machado, ex-sócio de Marcos Valério. Foi Machado quem relatou à Polícia Federal a festa no Grand Bittar.

- Essa festa houve, mas não foi feita por mim. Vieram essas meninas de São Paulo, mas essa recepção não foi feita por mim. Foi feita por São Paulo - declarou Jeany. - Quem bancou foi o Ricardo Machado - disse.

Sobre as garotas, foi evasiva:

- Se ele disse, quem tem provar é ele. Ele me pedia as garotas e dizia que não era para isso (participar de orgias com deputados). Era para recepção.

Perguntada se procedem os boatos de que teria uma agenda que causa mais temor a políticos de Brasília do que os extratos bancários de Marcos Valério, Jeany Mary hesitou e depois respondeu:

- É o que dizem, né!?

Segundo ela, a agenda está agora com uma pessoa de sua confiança.

Jeany se diz ameaçada e teria pedido proteção à Secretaria de Segurança de São Paulo. Um advogado da cafetina disse ao GLOBO que está negociando com o Ministério Público paulista a possibilidade de Jeany prestar depoimento contando o que sabe. Em troca, ela está querendo benefícios, como a delação premiada.

Jeany disse que os eventos eram pagos em dinheiro e que cobrava cerca de R$150 por garota. Durante cerca de 20 minutos de conversa, mediu as palavras para responder as perguntas e foi orientada por seus três advogados em parte delas. Reclamou que pessoas que a conheciam a abandonaram depois que ela virou personagem do escândalo do mensalão.

- Muita gente que me conhecia virou as costas - afirmou.

Legenda da foto: JEANY: "SE ela se engraçar com alguém, problema dela"