Título: GOVERNISTAS, COM MEDO DE PERDER, RECUAM NA VOTAÇÃO DO MÍNIMO
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 17/08/2005, O País, p. 14

Destaque tentaria retirar do texto a proposta de aumento para R$384,29

BRASÍLIA. Com medo de perder a votação na qual pretendia derrubar o aumento do salário mínimo aprovado pelo Senado na semana passada, os líderes do governo pediram ontem à noite que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), encerrasse a sessão do plenário. Um destaque tentaria retirar do texto a proposta do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) que elevou o mínimo de R$300 para R$384,29.

Embora um acordo entre os líderes de todos os partidos tivesse sido feito para que a votação fosse apenas simbólica, o que evitaria o desgaste para os deputados da base governista, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), evitou correr o risco de expor o governo a uma derrota. Poucos minutos antes da votação, um grupo de deputados de partidos de esquerda, liderados pelo deputado Ricardo Barros (PP-PR), da ala oposicionista do partido, já havia reunido 32 assinaturas de parlamentares para pedir que fosse verificado o quórum, o que provocaria votação nominal e uma possível derrota do governo.

Aumento pode causar desemprego, diz governo

O temor dos governistas era de que votando nominalmente muitos deputados da base poderiam preferir não arcar com o desgaste de votar por um salário mínimo menor. Chinaglia que começou o dia otimista, depois do término da sessão, cogitava até a possibilidade de obstruir a votação para evitar o aumento. O argumento do governo é que, além de provocar uma elevação dos gastos do Ministério da Previdência de R$12 bilhões apenas em 2005, o novo mínimo pode prejudicar a situação de pequenas e microempresas, além de provocar desemprego.

O governo trabalhou durante todo o dia para que o valor voltasse a ser de R$300, como havia sido apresentado inicialmente pela medida provisória assinada pelo presidente Lula. O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, chegou a participar da reunião dos líderes e defendeu que a votação fosse simbólica:

- É claro que vai depender da compreensão dos líderes. Até porque, às vezes, a disputa política ultrapassa o bom senso. Mas eu acredito no bom senso - ponderou o responsável pela articulação política do governo.

Segundo ele, se o Congresso não aprovar o mínimo de R$300, o governo já está preparado para apresentar um projeto de lei em regime de urgência para garantir o valor acertado com as centrais sindicais. Seria uma espécie de Plano B do governo.

- Caso a medida provisória não seja aprovada, o projeto de lei vai garantir e tranqüilizar trabalhadores e pensionistas de que o governo decidiu manter o mínimo de R$300. Acredito que um salário de R$384 é irreal. Por isso, aposto num consenso que sempre foi a marca dessa Casa - disse Wagner.

(*) Do Globo Online