Título: UNE, MST e CUT fazem protesto chapa-branca
Autor: Rodrigo Rangel
Fonte: O Globo, 17/08/2005, O País, p. 12

Entidades ligadas ao PT fazem manifestação em Brasília contra 'o movimento das elites para afastar o presidente'

BRASÍLIA. Após 13 anos, os caras-pintadas voltaram ontem à Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Só que, diferentemente dos protestos que levaram ao impeachment de Fernando Collor em 1992, a manifestação foi para apoiar o governo do PT, abalado por denúncias de corrupção. Promovido por União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Movimento dos Rurais Sem Terra (MST), o ato reuniu dez mil pessoas, segundo a Polícia Militar.

Nos discursos, sindicalistas e estudantes centraram fogo no que classificaram de movimento das elites para afastar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os manifestantes pediram a apuração das denúncias sem nomear os envolvidos, principalmente os do PT. E defenderam a reforma política para acabar com a corrupção. De diferente do discurso oficial do governo, só a cobrança por mudanças na política econômica.

O protesto começou pouco depois das 9h, em frente à Catedral de Brasília. Com três trios elétricos e bandeiras vermelhas, inclusive do PT, os manifestantes deram a volta na Esplanada dos Ministérios. Primeiro pararam em frente ao Ministério da Fazenda, onde cobraram a redução da taxa de juros e do superávit primário como forma de fazer andar as políticas sociais do governo. Depois, seguiram para o gramado em frente ao Congresso.

'A alternativa ao Lula é a direita'

O tom do protesto estava nas faixas e nas palavras de ordem. "Contra a desestabilização e a corrupção. Mudanças na política econômica. Reforma política democrática já!", dizia uma faixa. "Ão, ão, ão, abaixo o mensalão", gritavam os estudantes, que cutucaram a oposição: "É ou não é, piada de salão, o neto do ACM falando de corrupção", cantavam, referindo-se ao deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), integrante da CPI dos Correios.

- Acima de tudo somos contrários a golpes. Achamos errado abrir impeachment contra o presidente. Lula para nós é um símbolo. A relação que ele estabeleceu com os movimentos sociais ao longo de décadas não nos permite duvidar da honestidade e da história dele. Nós estamos aqui dizendo: apuração sim, impeachment não - disse o presidente da CUT, o petista João Felício.

O presidente da UNE, Gustavo Petta, afirmou não haver elementos políticos nem jurídicos para cassar Lula:

- A alternativa ao Lula é a volta da direita. Nós não vamos ser ingênuos para permitir e apoiar a volta da direita. Foi muito pior para os movimentos sociais durante os oito anos de governo Fernando Henrique. Queremos dizer para o presidente Lula que, para ele ter apoio social, vai ter que mudar essa política macroeconômica.

Para o presidente das UBES, Marcelo Gavião, sem reforma política o país estará exposto a crises:

- Não adianta mudar os atores e permanecer o cenário. Ou muda a política brasileira ou todo ano a gente vai ter que pintar a cara e vir para a rua defender impeachment de presidente e deputado.

- Esses gaiatos que aparecem aí vestidos de justiceiros são a oligarquia safada e corrupta desse país, que agora posa de vestal - discursou o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo.

www.oglobo.com.br/pais

Legenda da foto: ESTUDANTES E SINDICALISTAS na manifestação em Brasília: ato reuniu dez mil pessoas, segundo a PM