Título: 'Ele se identificou como Valério, do PT do Brasil'
Autor: Isabel Braga/Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 17/08/2005, O País, p. 8

Ex-tesoureiro do PTB nega versão do empresário, que reage acusando-o de mentira, sobre ida a Portugal

BRASÍLIA. Emerson Palmieri, primeiro-secretário e ex-tesoureiro informal do PTB, repetiu ontem a denúncia do deputado Roberto Jefferson, de seu partido: disse à CPI do Mensalão que foi a Portugal por orientação do então ministro José Dirceu para, ao lado de Marcos Valério, tentar negociar junto à Portugal Telecom recursos para sanar dívidas do PTB e do PT. Palmieri disse que Valério se apresentou como representante do PT.

Desmentindo a versão de Valério, ele disse que não foi a passeio ou para fugir de Jefferson, mas para tentar resolver os problemas financeiros junto à Portugal Telecom, na transação que Valério intermediaria para a compra da Telemig.

Palmieri centrou fogo em Valério e poupou Roberto Jefferson. Ele desqualificou a lista de sacadores apresentada pelo empresário à Justiça e negou ter feito saques num total de R$2,4 milhões. Palmieri contou que Valério apresentou-se na sede da Portugal Telecom, em Lisboa, como emissário do PT, mas que, chegando ao gabinete, só o empresário entrou.

- Ele se identificou como Valério, do PT do Brasil, e fomos levados ao último andar (da diretoria). Fui para testemunhar o encontro, enviado por Jefferson, que estava cansado das promessas do PT. E não participei (da reunião com Miguel Horta, da Portugal Telecom). Foi uma tarefa frustrada - disse.

Segundo ele, Valério alegou que Horta ficaria constrangido na conversa por não conhecê-lo. E na saída tentou tranqüilizá-lo sobre o dinheiro para o PT e PTB. Sobre o fato de a legislação eleitoral proibir a captação de recursos no exterior, Palmieri afirmou:

- A informação é que o dinheiro entraria por uma tele no Brasil - contou Palmieri.

CPI pretende fazer acareação

As contradições entre o depoimento de Palmieri e os de Valério levaram os deputados da CPI a defender uma acareação entre os dois. Palmieri concordou em abrir seus sigilos bancário, telefônico e fiscal. Ele reafirmou a versão de Jefferson, considerou-se vítima do PT e negou que tenha pavor de seu companheiro de partido, como afirmou Valério. Ele e Jefferson, garantiu, são amigos.

Para Valério, o depoimento não o surpreendeu:

- Ele morre de medo. Você acha que ele iria contra o Roberto Jefferson? Palmieri não acrescentou nada e omitiu informações. Ele simplesmente segue o mesmo caminho do Jefferson.

Sobre a viagem a Portugal, Valério afirmou que o depoimento de Palmieri está reforçando o que ele vem dizendo.

- Ele não negou que foi a Portugal comigo. Ele disse que não participou de reunião lá porque essa reunião não existiu - argumentou Valério.

Além dos R$4 milhões em espécie, segundo Palmieri, foram sacados R$545 mil das contas do empresário: R$200 mil para a filha de Alexandre Chaves (ex-motorista do PTB); R$145 mil, em dezembro de 2003, para o pagamento do publicitário Cacá Moreno, em Belo Horizonte (também sacados por Alexandre), e outros R$200 mil que Jefferson pediu ao deputado Romeu Queiroz (PTB-MG) para sacar e que teriam sido usados no pagamento de programas de TV do partido em 2003.

Palmieri contou que estava presente nas duas ocasiões em que Marcos Valério levou o dinheiro, em espécie, na sede do PTB em Brasília. Trancou tudo num cofre e num armário e deu as chaves a Jefferson.

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Legenda da foto: EMERSON PALMIERI, em depoimento na CPI do Mensalão: viagem a Portugal ao lado de Marcos Valério