Título: Testemunhas faltam à comissão de ética do PT e Delúbio ganha sobrevida
Autor: Ricardo Galhardo/Flávio Freire
Fonte: O Globo, 17/08/2005, O País, p. 4

Diretório nacional não poderá analisar caso do ex-tesoureiro na próxima reunião

SÃO PAULO. Só três das oito testemunhas de defesa arroladas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares compareceram à sessão da comissão de ética que analisa sua expulsão do partido. As ausências garantiram sobrevida ao ex-tesoureiro pelo menos até depois do Processo de Eleição Direta (PED) marcado para 18 de setembro. A comissão terá que marcar nova reunião para ouvir as demais testemunhas, impedindo que o diretório nacional analise o caso de Delúbio na reunião do dia 26.

No depoimento de mais de quatro horas Delúbio repetiu os argumentos apresentados em sua defesa por escrito: que só repassou dinheiro para as instâncias partidárias e que o dinheiro recebido de Marcos Valério não tinha origem pública.

- Ele repetiu a defesa que já havia feito no início do processo - disse Luix Costa, integrante da comissão.

As testemunhas que não compareceram ontem serão ouvidas no domingo. Delúbio terá dez dias para apresentar alegações finais e a comissão se reunirá para redigir e votar o parecer. A coordenadora da comissão, Lene Teixeira, espera entregar o relatório até o dia 31. A direção do PT esperava ter o parecer em mãos no dia 26, quando o diretório nacional deve voltar a se reunir.

- Estou propondo uma reunião extraordinária do diretório para o dia 26. Se a comissão de ética tiver terminado seu trabalho a direção vai avaliar o comportamento do ex-tesoureiro - disse o presidente do partido, Tarso Genro.

Segundo ele, o PT não deve atropelar os ritos partidários para se livrar de Delúbio.

- Seria muito fácil entregarmos duas ou três cabeças e achar que está tudo bem. Este é um longo processo que terá, não tenho a menor dúvida, punições exemplares.

Das oito testemunhas arroladas por Delúbio apenas Aldemir Lemos, do diretório estadual do Rio Grande do Norte, João Batista, do Pará, e Elza Jorge, do Mato Grosso do Sul, compareceram. Os presidentes dos diretórios regionais de São Paulo e Rio Grande do Sul, Paulo Frateschi e Davi Estival, o deputado distrital Chico Vigilante (DF), o presidente do diretório municipal do Rio, Eugênio Soares, e Donizete Nogueira, secretário-geral do PT do Tocantins, faltaram.

Desempregado, mas com carro de luxo e motorista

Mesmo desempregado e sem cargo no PT, Delúbio chegou para depor num luxuoso Ômega preto com motorista particular, o mesmo com quem Delúbio trabalhava quando era dirigente do partido. Segundo o PT, o carro usado pelo ex-tesoureiro não tem relação com o partido. O PT não deu explicações sobre o motorista.

Horas depois, uma equipe da Polícia Federal chegou à sede do PT para intimar Delúbio a depor na CPI do Mensalão. Com ajuda de funcionários do PT, Delúbio driblou os policiais. Cercados por jornalistas, os policiais se recusaram a informar o motivo da visita. Funcionários do PT levaram os policiais ao primeiro andar.

A PF queria entregar a intimação para Delúbio depor na CPI do Mensalão diretamente a ele. Funcionários do PT, no entanto, mentiram dizendo que Delúbio não estava no prédio quando, na verdade, estava acompanhando os depoimentos de suas testemunhas de defesa. Resignados, os policiais entregaram a intimação aos dois advogados do ex-tesoureiro. Apesar do alvoroço, a ação da PF foi inócua, já que, a pedido do próprio Delúbio, a CPI adiou seu depoimento de hoje para amanhã.