Título: Doleiro preso acusa petistas
Autor: Adauri Antunes Barbosa/Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 17/08/2005, O País, p. 3

Toninho da Barcelona diz à CPI que fez remessas para o exterior para o PT

O doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, condenado a 25 anos de prisão por evasão de divisas e lavagem de dinheiro, disse ontem a 16 parlamentares da CPI dos Correios que operava para o PT durante a campanha de 2002, trocando dólares por reais. Segundo Barcelona, a operação era feita por vários dirigentes do PT, inclusive o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que coordenou a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Barcelona apresentou um amplo cardápio de denúncias à delegação da CPI, que pretende ouvi-lo novamente na terça-feira.

O doleiro afirmou que tinha um funcionário designado exclusivamente para atender os dirigentes do PT, que compravam e vendiam dólares irregularmente, entre 2002 e 2003. Segundo a versão dele, o movimento era feito com o emprego de uma conta no MTB Bank, descrito por ele como "a verdadeira caixa-preta do país". Barcelona citou o nome do deputado José Dirceu. Os outros nomes e os valores estariam em arquivos eletrônicos apreendidos pela Polícia Federal e disponíveis na 6ª Vara Federal Criminal, segundo ele. A CPI já requisitou os arquivos.

O doleiro negocia a redução de sua pena com o Ministério Público Federal e pediu apoio da CPI, em troca da apresentação de provas e indícios contra Dirceu, Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o deputado José Janene (PP-PR), além de detalhes do caso do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), em janeiro de 2002.

O doleiro falou ainda dos esquemas do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, do caso Lubeca, e explicou que tem informações porque opera no país desde 1985.

- Achei o depoimento muito genérico, sem profundidade e com informações muito soltas - avaliou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

O doleiro disse ainda que Dirceu usava a corretora Bônus-Banval, utilizada pelo esquema do empresário Marcos Valério de Souza. De acordo com ele, Dirceu fazia remessas de dinheiro pela corretora, informou o deputado Eduardo Paes (PDSB-RJ).

- Ele está buscando formas de reduzir sua pena. Mas se tiver realmente provas, as denúncias são muito graves- afirmou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC).

Toninho da Barcelona cumpre pena num presídio em Avaré, no interior de São Paulo, e foi levado de helicóptero até a capital, onde foi protegido por forte esquema de segurança. O doleiro chorou em seu depoimento, e alegou que é um preso político por saber dos esquemas ilegais de políticos e de pessoas da alta sociedade.

Doleiro promete mais dados sobre Celso Daniel

Barcelona disse que descobriu, no ano passado, que tinha como cliente um grupo de empresas que participava do esquema de propinas na prefeitura petista de Santo André. Outro doleiro, chamado Richard Waterloo, lhe teria perguntado sobre o caso e informado do perigo da operação:

- Daí percebi realmente que eu trabalhava para o esquema e que estava envolvido no caso do assassinato do (prefeito) Celso Daniel.

Ele prometeu dar mais informações sobre o esquema e adiantou que o próprio Celso Daniel usava seus serviços de doleiro.

Na avaliação do deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), o depoimento de Barcelona pode reforçar o pedido para o depoimento de Meirelles na CPI.

Segundo o doleiro, se a caixa-preta do MTB Bank, já citada na CPI do Banestado, for aberta, o país ficará horrorizado. Ele afirmou que o banco movimentou 90% do capital que é mandado ilegalmente para o exterior.

- Instituições de caridade e até padres e freiras vão entrar nesse escândalo se abrirem essa caixa-preta - disse o doleiro.

Uma das contas do MTB que teriam "nomes de muitos políticos" seria a Asteca, segundo o senador Álvaro Dias. Barcelona teria levantado suspeitas sobre o presidente do Banco Central, assim como integrantes do governo de Fernando Henrique Cardoso, segundo relatou o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS). Através de sua assessoria, o presidente do BC, Henrique Meireles, declarou que nunca fez remessa ilegal para o exterior.

Para o deputado ACM Neto (PFL-BA), as afirmações do doleiro precisam ser relativizadas, já que ele tem como meta a redução de sua pena, mas podem ser mais detalhadas em um segundo depoimento à CPI. O doleiro também acusou o ministro da Justiça, Márcio Tomaz Bastos, de evasão de divisas. Segundo ele, o ministro conheceu um doleiro em 1993 que o ajudou a mandar dólares para o exterior.

Legenda da foto: TONINHO DA Barcelona (na cabeceira) presta depoimento aos integrantes da CPI dos Correios