Título: PARA ANALISTAS, ALTA DE JUROS SERIA REMÉDIO AO CONTÁGIO DA CRISE POLÍTICA
Autor: Eliane Oliveira/Flávia Barbosa/Martha Beck
Fonte: O Globo, 17/08/2005, Economia, p. 24

Com elevação do superávit descartada, medida daria blindagem à economia

BRASÍLIA. Decidido a não aumentar, este ano e em 2006, a meta de superávit primário (receitas menos despesas, descontados os juros da dívida) - atualmente de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) - o governo está sem mecanismos de blindagem da economia e, numa eventual contaminação pela crise política, terá de elevar os juros. Esse remédio é usado quando a inflação ameaça sair do controle ou há fuga de capitais.

Em momentos de crise, o governo sempre recorria à elevação do superávit primário, para mostrar aos mercados que o país tinha fôlego para honrar seus compromissos. Com a decisão de manter a meta de 4,25% do PIB em 2006 e, provavelmente, 2005, o Executivo ficaria restrito à política monetária.

- Do jeito que as coisas estão, não tem outra coisa que podemos chamar de blindagem - reconhece um técnico da área econômica.

Para essa fonte, porém, nem sempre a política monetária é uma blindagem, pois a alta dos juros em geral é conseqüência de uma crise. Além disso, atualmente haveria espaço para a redução das taxas, devido à queda da inflação:

- Aumentar juros agora só piora. Amplia o déficit público e irrita ainda mais a classe produtiva brasileira.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, garantiu que não haverá alta do superávit:

- Não há hipótese de aumentarmos a meta para 2006. Não estamos conseguindo fechar o Orçamento com 4,25%, imagine 5%.

Hoje, o esforço fiscal está em 5,1%. Mas esse percentual deve cair até o fim do ano devido às pressões por gastos.

- Se a crise chegar na economia, ela é resultado de pânico e, para enfrentar isso, o governo teria de aumentar os juros. Espera-se que o BC tenha noção do seu papel neste momento de crise - disse o economista Eustáquio Reis, do Ipea, para quem um maior rigor fiscal, apesar de tranqüilizar os mercados, acaba por contrair a economia.

Levy: crescimento do PIB é a melhor vacina

- Concordo que o Orçamento está espremido, mas também é verdade que, nos últimos seis anos, o resultado fiscal é melhor a cada ano - disse Roberto Padovani, da consultoria Tendências, que defende meta maior para este ano, amparada no aumento da arrecadação.

Para um diretor do BC, porém, esta discussão - aperto fiscal ou arrocho monetário - não tem amparo na realidade, já que o país não enfrenta vulnerabilidade externa:

- Emoções podem vir da política. Mas, com a quantidade de dólares que está entrando, não tem como não ser mantida a calmaria nas contas externas.

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, evitou falar em aumento do superávit e afirmou que a melhor forma de o governo blindar a economia é continuar trabalhando pelo crescimento do PIB:

- Essa é a melhor vacina contra qualquer problema