Título: ... MAS CRÉDITO FAZ COMÉRCIO VENDER MAIS
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 17/08/2005, Economia, p. 23

Em junho, vendas subiram 1,18%. Aumento de salário-mínimo também puxa a alta

O aumento do salário-mínimo e a oferta maior de crédito para o consumidor foram os principais responsáveis pelo expansão de 1,18% nas vendas do comércio do país em junho, em relação a maio - já com ajuste sazonal. Sobre junho de 2004, o avanço é ainda maior, de 5,31%, representando a 19ª alta nas vendas nessa comparação com o mesmo mês do ano anterior.

Com o resultado, o varejo brasileiro fechou o primeiro semestre acumulando crescimento de 4,64%, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada ontem pelo IBGE.

Liderando a expansão do comércio estão os setores de móveis e eletrodomésticos, com uma alta de 4,29% em comparação a maio, e hipermercados e supermercados, com aumento de 2,02%. Na contramão, o setor de tecidos e vestuário registrou taxas negativas, em resposta à mudança de estação.

- No segmento de móveis, houve forte efeitos de crédito consignado e ampliação de prazo de pagamento das lojas. O aumento do salário-mínimo, que estimula as pessoas a se endividarem mais com crédito, trouxe impacto positivo nos supermercados - afirmou o economista Reinaldo Pereira, do IBGE, lembrando que o reajuste de 15,4% em maio garantiu um crescimento de 1,5% no rendimento médio das pessoas ocupadas.

Já a queda do dólar influenciou o ritmo de vendas de equipamentos e materiais para escritório e informática. A variação atingiu 51,65% em relação a junho do ano passado. Também apresentaram crescimento artigos de uso pessoal e doméstico (14,81%) e farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (6,25%).

Os números positivos do setor varejista ainda não representam, no entanto, um movimento de retomada vigorosa do comércio, disse Pereira. Porém, as perspectivas para os próximos meses são boas:

- A queda do dólar pode trazer um Natal com produtos mais em conta para o consumidor, como bacalhau e azeite, o que ajuda nas vendas.

João Gomes, economista do Instituto Fecomércio-RJ, ressalta que o aumento do salário-mínimo veio acompanhado de um cenário de deflação (em junho o IPCA foi de -0,02%). Assim, houve ganho real de renda:

- Mesmo com a queda de emprego na indústria, não há efeitos nas vendas, já que esse queda foi pequena. Principalmente quando se vê que o número de junho de 2005 foi superior ao de 2004 - disse Gomes, citando ainda os dados da pesquisa da entidade. - O resultado positivo do IBGE deve se estender para julho. Nosso levantamento, que é uma espécie de prévia do dado nacional, mostra que o faturamento do comércio do Estado do Rio cresceu 1,95% em julho.

'Crise política chegou ao consumidor, ameaçando vendas'

Menos otimista está Antonio Carlos Borges, diretor-executivo do Instituto Fecomercio-SP. Ele explica: o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da entidade atingiu em agosto 126,1 pontos - o menor patamar dos últimos 12 meses:

- A crise política chegou ao consumidor, que se sente inseguro. Essa insegurança pode piorar, o que afetaria as vendas dos próximos meses.

João Carlos de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), acrescenta que qualquer situação de insegurança traz impactos nas vendas:

- Nossa previsão é encerrar 2005 com um aumento de 2% nas vendas. Em 2004, o crescimento foi de 2,5%. Mas é difícil prever, já que estamos diante de incertezas: crise política e dólar, por exemplo.