Título: REMUNERAÇÃO AINDA DEIXA A DESEJAR
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 17/08/2005, Economia, p. 23

Expansão da economia, este ano, deve repetir dobradinha crédito e exportação

O comércio cresceu, a produção industrial aumentou mas, no primeiro semestre deste ano, a exemplo do que ocorreu no ano passado, a renda dos trabalhadores teve um comportamento irregular. Na indústria, os salários recuaram 1% de abril a junho, informou ontem o IBGE. Cresce entre os analistas a avaliação de que a expansão da economia brasileira este ano, assim como foi em 2004, será novamente baseada na dupla crédito e exportações, com os rendimentos ainda deixando a desejar.

- O PIB deve crescer de 3% a 3,5% este ano. Esse ritmo de expansão é claramente incapaz de gerar um aumento na renda do trabalhador - diz o economista Claudio Dedecca, da Unicamp.

No varejo, as lojas com melhor resultado são as de móveis e eletrodomésticos, graças ao crédito. Na indústria, este setor também está na dianteira, assim como a produção voltada para exportação. Na lanterninha aparecem os bens de consumo não-duráveis (alimentos e vestuário), afetados pela renda.

Essa semelhança no perfil do crescimento econômico entre 2005 e 2004 mereceu destaque do economista Antônio Barros de Castro, diretor do BNDES, em relatório divulgado semana passada. Com a ressalva de que o setor agrícola, este ano, não deve ter um desempenho tão bom quanto em 2004. Para Castro, a esperada queda de juros poderá tornar o crescimento econômico mais difuso em 2006.

Claudio Dedecca, da Unicamp, lembra que a expansão prevista para o Brasil este ano está bem aquém do esperado para outros países da região. Chile, México e Venezuela devem crescer mais de 6%:

- Frente ao aumento da população, à precariedade do nosso mercado de trabalho e à elevada taxa de desemprego, um crescimento inferior a 5% é insuficiente para melhorar a renda. (Luciana Rodrigues)