Título: EMPREGO E SALÁRIO ENCOLHEM...
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 17/08/2005, Economia, p. 23

Ocupação na indústria recuou 0,6% em junho sobre maio, apesar da produção maior

Depois de ter crescido em abril e de ficar estagnado em maio, o emprego na indústria brasileira caiu 0,6% em junho - frente ao mês anterior, na série com ajuste sazonal - e voltou aos patamares de março, informou ontem o IBGE. Foi o pior desempenho nessa comparação desde dezembro de 2003. Na comparação com o ano passado, o emprego segue em expansão. A alta foi de 1,3% sobre junho de 2004, no décimo-sexto mês seguido de aumento. Porém, mesmo nesse tipo de comparação, as contratações na indústria perderam fôlego, já que em maio a expansão fora maior, de 1,9% e, em abril, de 3%.

No acumulado do ano, a ocupação na indústria cresceu 2,3%, enquanto a produção do setor teve alta bem maior, de 5% no primeiro semestre.

Na avaliação do IBGE, o emprego refletiu, em junho, o desaquecimento do setor industrial entre janeiro e abril deste ano, quando a produção veio crescendo a um ritmo mais lento a cada mês. Em maio e junho, a indústria deu uma guinada e cresceu 2,9% na série com ajuste sazonal, o que ainda não apareceu nos indicadores de emprego, lembra Isabella Nunes Pereira, gerente da pesquisa de emprego industrial do IBGE.

Mas para Marcelo de Ávila, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a ocupação na indústria retrata a redução do crescimento econômico no ano. Ele diz que, em 12 meses, a expansão do emprego industrial foi ligeiramente menor em junho (2,91%), que em maio (2,93%).

- É a primeira vez que ocorre essa desaceleração (crescimento menor) desde o início de 2003. Isso é reflexo do crescimento econômico mais brando esperado para este ano. Em 2004, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país) foi bem mais forte - afirma Ávila.

Renda do trabalhador cai 2,4% no mês

Entre os setores da indústria com pior desempenho nas contratações estão vestuário (com queda de 2,1% na comparação com junho de 2004), e calçados e couro (-12,1%). Estes segmentos estão justamente entre os que mais empregam trabalhadores. Por outro lado, as fábricas de bens duráveis (como eletrodomésticos, automóveis e móveis), que têm liderado o avanço da produção industrial, são pouco intensivas em mão-de-obra.

- Mesmo assim, o setor de bens duráveis aparece entre os primeiros também na criação de empregos, dada a magnitude de seu desempenho - explica Isabella, do IBGE.

Entre os bens duráveis, o segmento de meios de transporte registrou alta de 9,9% na ocupação (frente a junho de 2004) e o grupo máquinas e aparelhos eletroeletrônicos aumentou em 4,2% as contratações. Fora os bens duráveis, também teve destaque o setor alimentos e bebidas (alta de 8,2%) que, segundo Isabella, está vinculado ao sucesso do agronegócio em segmentos específicos, como álcool e açúcar.

Assim como o emprego, também a renda dos trabalhadores da indústria piorou em junho. A queda foi de 2,4% em relação a maio e, no segundo trimestre, o rendimento recuou 1,1% na comparação com os três primeiros meses do ano, na série com ajuste sazonal. Isabella, do IBGE, explica que este ano houve muitos pagamentos de benefícios como participação nos lucros entre janeiro e março, o que foge ao padrão sazonal, fazendo com que o desempenho da renda ficasse pior nos meses mais recentes.

Na comparação com o ano passado, porém, a renda do trabalhador da indústria continua positiva, com alta de 3,3% frente a junho. No segundo trimestre, em relação ao mesmo período de 2004, o aumento foi de 4,4%, puxado pelo Estado do Rio, onde a alta foi de 14,6%, graças principalmente à indústria petroquímica. O emprego no Rio, porém, recuou. A queda foi de 1,1% em junho sobre o mesmo mês do ano passado.

INCLUI QUADRO: A VARIAÇÃO DO PESSOAL OCUPADO NA INDÚSTRIA (FRENTE AO MÊS ANTERIOR, NA SÉRIE COM AJUSTE SAZONAL) / O RITMO DAS VENDAS NO COMÉRCIO (VARIAÇÃO EM RELAÇÃO AO MESMO MÊS DO ANO ANTERIOR)