Título: BRASIL COMEÇA A PRODUZIR CULTURAS DE CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS E NEURAIS
Autor: Leonardo Valente
Fonte: O Globo, 18/08/2005, O Mundo/Ciencia e Vida, p. 30

Trabalho feito pela UFRJ terá os primeiros resultados em três meses

O Brasil começa em setembro a cultivar células-tronco embrionárias e neurais humanas, dando um dos passos mais importantes para o desenvolvimento de tecidos humanos em laboratório, o que pode resultar na futura cura de muitas doenças.

O projeto está sendo implantado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, segundo o pesquisador Stevens Rehen, do Departamento de Anatomia, responsável pelos trabalhos, está dividido em três grandes etapas. A primeira é o cultivo de linhagens de células-tronco do tipo neural e as embrionárias.

- Esse cultivo ainda não é feito no Brasil e trata-se de uma fase fundamental para as pesquisas com células-tronco. Estamos prontos para iniciar os trabalhos em setembro e, em três meses, esperamos obter os primeiros resultados. Nosso objetivo a longo prazo é ter condições de produzir linhagens dessas células indefinidamente, sem a necessidade de importá-las - disse ele.

A segunda fase do projeto tem como objetivo fazer com que as células-tronco embrionárias cultivadas dêem origem a outras células do organismo. As células-tronco embrionárias têm a capacidade de dar origem a diferentes tipos de tecidos do corpo.

- Queremos desenvolver uma tecnologia nacional para transformar as células-tronco em outros tecidos. Isso fará com que o Brasil fique em situação privilegiada neste tipo de pesquisa - explicou o pesquisador.

Terceira etapa aguarda recursos federais

Uma terceira etapa do projeto, segundo Stevens, aguarda a liberação de recursos do governo federal e deverá ser feita em conjunto com outras instituições, entre elas a Universidade de São Paulo.

- Queremos compartilhar essa tecnologia com outras instituições do país, contribuindo de forma mais eficaz para o desenvolvimento das pesquisas com células-tronco embrionárias - antecipou.

A expectativa é de que a pesquisa permita que o país, no futuro, tenha condições de desenvolver transplantes de tecidos feitos a partir deste tipo de célula, o que poderia ser a cura para uma série de doenças degenerativas.

Pesquisadores de vários países tentam fazer o mesmo. Ontem, cientistas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, que já cultivam células-tronco embrionárias, anunciaram ter criado pela primeira vez um grupo puro de células-tronco do sistema nervoso. A esperança é de que essas células ajudem os pesquisadores a encontrar novos tratamentos para doenças como os males de Parkinson e Alzheimer.

- O que eles fizeram é resultado de recursos anteriores, como a capacidade de cultivar as células-tronco em laboratório. Dominando esse recurso, poderemos investir em pesquisas semelhantes, mas com tecnologias próprias, não enfrentando o problema das patentes - disse Stevens.