Título: DUDA MENDONÇA DEVE PERDER A CONTA DA PRESIDÊNCIA
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 18/08/2005, O País, p. 11

BRASÍLIA. O publicitário Duda Mendonça deve perder formalmente, a partir de amanhã, o posto de marqueteiro da Presidência no governo Lula. O contrato da agência Duda Mendonça & Associados com a Secretaria de Comunicação (Secom) vence hoje e não deverá ser prorrogado por causa da repercussão do depoimento de Duda, que admitiu crimes ao confessar ter recebido dinheiro de caixa dois do PT, pelo esquema de Marcos Valério, numa empresa nas Bahamas.

A decisão está nas mãos do ministro Luiz Dulci, titular da Secretaria Geral da Presidência da República, mas fontes do Palácio do Planalto consideram remota a possibilidade de renovação do contrato com Duda, depois que o publicitário confessou em depoimento na CPI ter recebido R$10,5 milhões de Marcos Valério no exterior.

O contrato de Duda Mendonça com a Secom foi assinado em 19 de agosto de 2003 pelo prazo de um ano e prorrogado em agosto de 2004. Nova prorrogação seria praticamente automática, não fosse o envolvimento do publicitário no escândalo do esquema de Marcos Valério. Pela lei de licitações, os contratos podem ser prorrogados até o prazo limite de 60 meses, se houver interesse das partes.

Duda cuida da imagem do presidente Lula desde a campanha presidencial de 2002 e mantinha com o presidente uma relação muito próxima. Sua permanência no posto é considerada imprópria por assessores do presidente, pois poderia servir para aproximar ainda mais a crise do Palácio do Planalto, passando a imagem de condescendência com os crimes admitidos pelo publicitário, como evasão de divisas e sonegação fiscal.

Contrato rende R$113 milhões ao publicitário

Este ano, agência de Duda já recebeu R$27,8 milhões

BRASÍLIA. Desde que assinou contrato com a Secom, a agência do publicitário Duda Mendonça já recebeu R$113 milhões pelos serviços prestados à Presidência da República. A conta é dividida em três agências: Duda Mendonça, Lew Lara e Matisse, mas a maior fatia de serviços fica com a agência de Duda. Em 2003 e 2004, os gastos da Presidência da República com publicidade foram de R$175,2 milhões, segundo levantamento feito no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) pela assessoria técnica do PFL no Senado. Desse total, a agência Duda Mendonça ficou com R$85,2 milhões, o equivalente a 48,6%. Em 2005, a agência de Duda já recebeu R$27,8 milhões pelo contrato com a Presidência.

Duda mantém duas outras contas no governo, com a Petrobras e o Ministério da Saúde, mas como os contratos estão em andamento, não há, por ora, decisão de cancelá-los.

Depoimento de Valério na CPI complica Duda

A situação de Duda no governo Lula começou a se complicar quando o empresário Marcos Valério revelou à CPI dos Correios que Zilmar Fernandes da Silveira, sócia do publicitário, recebera R$15,5 milhões da SMP&B, uma das agências de Valério. Duda e Zilmar inicialmente negaram os saques nas contas da SMP&B, mas acabaram admitindo o recebimento dos recursos com um agravante. A maior parte, segundo o próprio Duda, foi recebida através de uma conta do publicitário nas Bahamas. O dinheiro seria para pagar dívidas de campanha de 2002 e outros serviços prestados ao PT em 2003.

CPI e Ministério da Justiça rastreiam R$10,5 milhões

A partir dos documentos fornecidos por Duda e Zilmar, a CPI dos Correios e o Ministério da Justiça passaram a rastrear o caminho dos R$10,5 milhões que o publicitário admitiu ter recebido no exterior. Os depósitos na offshore Dusseldorf , aberta por Duda nas Bahamas, partiram de quatro instituições: a empresa Trade Link Bank, o BAC Florida Bank, o Israel Discount Bank of New York e o Banco Rural Europa. A Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) o bloqueio da conta usada por Duda para receber os recursos do PT.

A CPI, o Ministério Público e a Polícia Federal também estão rastreando outras contas de Duda no exterior, que ligariam o publicitário ao esquema de remessa ilegal de recursos do ex-prefeito Paulo Maluf (PP). Duda trabalhou em várias campanhas de Maluf e isso fez com que o PT resistisse, num primeiro momento, a torná-lo o marqueteiro oficial de Lula. (Regina Alvarez)