Título: PT pede desculpas mas não pune ninguém
Autor: Isabel Braga
Fonte: O Globo, 18/08/2005, O País, p. 8

Em nota, partido conclama diretórios a promoverem manifestações a favor do governo e contra a corrupção

BRASÍLIA. Quatro dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconhecer que o governo e seu partido precisam se desculpar pelos seus erros, a direção do PT divulgou nota ontem pedindo desculpas à nação por atos cometidos por seus dirigentes. Segundo a nota, assinada pelo secretário-geral, deputado Ricardo Berzoini (SP), este será o primeiro pedido de desculpas. Quando o PT tiver um quadro completo de todas as responsabilidades, ele será divulgado. A resolução foi aprovada ontem em reunião da executiva do PT.

Na nota, a executiva conclama os diretórios municipais a promover debates e manifestações em defesa do PT e do governo e contra a corrupção, no dia 27. Diz ainda que o PT continuará defendendo o mandato de Lula e dará continuidade a seu projeto.

"O partido faz seu primeiro pedido de desculpas à nação, pois os atos que nos comprometem, moral e politicamente perante os brasileiros, foram cometidos por dirigentes do PT, sem o conhecimento de suas instâncias", diz a nota. O texto afirma ainda que a atual executiva desconhecia as denúncias sobre o uso de caixa dois em campanhas eleitorais.

O pedido de desculpas foi recebido com ceticismo pela oposição e pela esquerda do PT.

- O esquema de corrupção envolveu dirigentes do PT e do integrantes do Executivo e eles sequer foram expulsos ou suspensos. Uma nota com um pedido de desculpas não funciona - afirmou o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP).

- Nunca peça desculpas porque estará confessando sua culpa. Talvez a palavra fosse perdão, mas mesmo o condenado à cadeira elétrica pede perdão e não escapa de sua pena - afirma o líder da minoria, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA).

Para esquerda, falta punição

Deputados do bloco de esquerda do PT criticaram a nota, principalmente porque não trazia o anúncio de punição dos petistas sob suspeita.

- Só palavras não bastam. Querem apagar incêndio com conta-gotas. Não souberam fazer uma autocrítica - disse o deputado Chico Alencar (RJ).

Já os deputados do Campo Majoritário saíram em defesa da nota da executiva:

- Não se pode abrir mão dos estatutos e do direito de defesa. O PT sabe punir e irá punir quem quer que seja - disse Maurício Rands (PE), lembrando que a investigação interna acompanhará o trabalho de CPIs, Ministério Público e Polícia Federal.

- Não vamos fazer tribunal de exceção e caça às bruxas. Quero provas. Cadê as provas contra José Dirceu? - reagiu Carlito Merss (PT-SC).

Trechos da nota

"As novas denúncias relacionadas com financiamento paralelo de campanhas eleitorais, que envolvem diretamente o Partido dos Trabalhadores e sem o conhecimento de suas instâncias formais, demonstram (...) a necessidade de que o PT continue reunindo informações para a apuração de responsabilidades e de aplicação de punições exemplares. A executiva nacional do PT (...) afirma que desconhece tais operações e ainda mais, que desconhece se mais fatos dessa natureza virão à tona.

"O partido (...) faz o seu primeiro pedido de desculpas à nação, pois os atos que nos comprometem, moral e politicamente, perante os brasileiros foram cometidos por dirigentes do PT sem o conhecimento de suas instâncias. Quando tivermos um quadro completo das responsabilidades, (...) elas serão amplamente divulgadas à sociedade brasileira.

"Tais atos criaram uma situação de constrangimento para o PT e para o nosso governo. É impossível avaliar, neste momento, a profundidade e a gravidade de tais danos. Estamos recompondo nossa vida interna, reorganizando as nossas estruturas administrativas e procurando responder à crise política para defender a continuidade (...) do governo Lula. Ao presidente, o PT manifesta a sua confiança e a disposição de defender o seu mandato (...).

"O discurso do presidente à nação deve ser entendido como o início de um novo diálogo entre o governo e a sociedade civil. A ele devem se seguir propostas concretas de combate à crise (...).

"São necessárias medidas imediatas que promovam altas taxas de crescimento e juros compatíveis com o alavancamento da produção e do consumo das classes trabalhadoras (...), sem comprometer a estabilidade macroeconômica.

"A executiva nacional orienta todos os seus diretórios municipais para que promovam debates e manifestações em defesa do PT, contra a corrupção e a impunidade, e em defesa do governo Lula no dia 27 de agosto.

"A executiva nacional aprovou também a constituição de uma comissão de sindicância, com a finalidade de consolidar as informações a respeito dos filiados citados nas denúncias(...).

Legenda da foto: DIRCEU NA Câmara: apelo para desistir de eleições no PT não funcionou