Título: Quarenta transferências abasteceram 'offshore'
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 19/08/2005, O País, p. 5

Vinte e uma empresas e bancos envolvidos na teia de repasses para a firma de Duda Mendonça nas Bahamas

BRASÍLIA. A Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça já tem o levantamento de 21 empresas e bancos que fizeram depósitos na conta da Dusseldorf, a empresa offshore que pertence ao publicitário Duda Mendonça, na agência de Miami do Bank of Boston International. O resultado do trabalho é uma teia de bancos e empresas dentro e fora do Brasil, que está sendo investigada pela CPI dos Correios.

Com base nos dados, o governo brasileiro já pediu ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos informações sobre as operações em território americano.

Transferências somam mais de US$3,2 milhões

As 40 transferências, que somam US$3,253 milhões, foram feitas entre 12 de março e 4 de agosto de 2003. A conta de Duda recebeu dinheiro diretamente de sete instituições, a maior parte delas americana: Standard Chartered, Bac Florida Bank, Wachovia Bank, Bank Boston National Association e Israel Discount Bank of New York, do Banco Radial e de outra instituição ainda desconhecida. O maior número de transferências veio da Standard Chartered - 12 depósitos - e de um banco ainda desconhecido, que fez 18 créditos.

Mas os sete depositários já tinham recebido o dinheiro que chegou à conta do publicitário baiano de outras sete fontes: Banco de Boston, Fleet National Bank, Banco Rural Europa, Rural Intl Bank, do Banco Kanton, da Radial Enterprise e de outra empresa desconhecida.

Para abastecer este grupo, por sua vez saíram dólares de outras sete empresas. A lista é encabeçada pela Trade Link Bank, offshore sediada nas Ilhas Cayman que pelas suspeitas da CPI teria ligações com os dirigentes do Banco Rural, de onde saiu a maior parte do dinheiro para abastecer as contas de políticos aliados do governo.

A Trade Link Bank, pelas informações da CPI, teria sido usada também pelo doleiro Haroldo Bicalho, preso no ano passado na operação Farol da Colina da Polícia Federal por seu envolvimento em remessas irregulares de dinheiro ao exterior por meio da conta de outra off shore, a Beacon Hill, na agência do Banestado em Nova York.

Além da offshore, que fez 11 transações com o Banco de Boston no valor total de US$827,522 mil, a Deal Financial Corp, a SM Comex e a SM Import fizeram duas transferências cada uma, de valores que variaram de US$19.072 a US$97.057, para o Fleet National Bank.

A Kanton Business Corp fez uma transferência que antes de chegar a conta da Dusseldorf passou pelo Israel Discount e duas outras empresas desconhecidas fizeram uma operação cada de remessas de recursos para o Banco Rural Europa S/A e para a Rural Intl Bank.

A CPI agora quer descobrir a origem deste dinheiro. Levantamento preliminar do Ministério da Justiça, que faz parte do material com o mapa das transferências para Duda Mendonça, indica que - apenas com base nas declarações dele à CPI dos Correios - o publicitário deve ser investigado por crimes eleitorais e de sonegação fiscal. Tradicionalmente, os Estados Unidos colaboram com este tipo de investigação colocando até o FBI, a polícia federal americana, para rastrear o dinheiro.