Título: Sessão marcada por tumulto e bate-boca
Autor:
Fonte: O Globo, 19/08/2005, O País, p. 9

'É o batom na cueca do PT'

BRASÍLIA. O depoimento do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares à CPI do Mensalão, ontem, foi marcado por muito bate-boca e tumulto. O clima quente, com troca de ofensas entre os parlamentares, contrastava com o desempenho de Delúbio, que voltou à cena aparentando, novamente, ter tomado algum tipo de calmante: falava devagar, quase balbuciando as palavras, e piscando muito enquanto ouvia ou respondia às perguntas.

Quando um parlamentar disse que ele estava dopado, deputados petistas saíram em sua defesa pedindo que fosse respeitado. Aí o clima esquentou .

- Ele não merece respeito. Vocês não têm moral, é o batom na cueca do PT - gritavam deputados.

A sessão foi interrompida por alguns minutos e o presidente da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), ameaçou retirar os parlamentares que se excedessem. A deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), então, retrucou, começando um novo bate-boca:

- Se alguém está faltando com o respeito é o depoente. Ele não tem mais o hábeas-corpus. Ele tem que responder, temos que ter uma rua de mão dupla: se temos que respeitá-lo, ele também terá que nos respeitar - disse a tucana, recebendo o apoio de diversos deputados.

- Aqui não é um tribunal de exceção, não posso extrair uma auto-incriminação. Ninguém vai prender ninguém porque depõe dessa ou daquela maneira - reagiu Lando.

Novo tumulto aconteceu quando o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA) perguntou como Delúbio estava sobrevivendo agora que está desempregado. O ex-tesoureiro respondeu que estava vivendo com os R$163 mil de aplicações que tinha declarado ao Imposto de Renda e não quis revelar o valor do salário de sua mulher, Mônica Valente, dirigente do PT. Costa perguntou então se ele tinha coragem de olhar nos olhos de sua família. O peemedebista ainda tentou provocar Delúbio para que dissesse se aceitava a acusação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que era um traidor.

- O presidente, em seu pronunciamento, apontou-lhe o dedo, e não foi o polegar, que ele não tem - disse o deputado , confundindo o dedo que falta a Lula.

Em sua intervenção Zulaiê afirmou não entender porque Delúbio ainda não tinha sido sequer indiciado pela Polícia Federal e perguntou a ele se sabia que iria ter de responder pelos mesmos crimes de que estão sendo acusados o empresário Marcos Valério de Souza e outros.

- Sei das dificuldades que vamos encontrar - respondeu Delúbio, rindo.

- Nós não, o senhor - reagiu a tucana.