Título: Marinho, que mudou versão, terá de depor de novo
Autor: Adriana Vasconcelos/Bernardo de la Peña/Gerson Ca
Fonte: O Globo, 19/08/2005, O País, p. 11

Reconvocação é baseada nos depoimentos ao Ministério Público Federal, que provariam esquema do PTB em estatais

BRASÍLIA. A CPI dos Correios aprovou ontem a reconvocação do ex-chefe de Contratação da estatal Maurício Marinho, flagrado num vídeo recebendo R$3 mil. A comissão quer esclarecimentos sobre o que Marinho já revelou ao Ministério Público Federal. Em uma série de 15 depoimentos tomados nos últimos dois meses, como noticiou ontem O GLOBO, ele admitiu a existência de um esquema de arrecadação de dinheiro para o PTB, comandado pelo ex-presidente do partido Roberto Jefferson (RJ).

Genro vigiaria acordos feitos com empresários

Marinho chegou a dizer que Jefferson pôs o genro, Marcus Vinícius Vasconcelos Ferreira, para vigiar os acordos feitos com os empresários nas licitações da estatal. Nas palavras de Marinho, o genro do deputado funcionava como seus olhos e ouvidos nos Correios.

A CPI vai requisitar ao Ministério Público uma cópia dos novos depoimentos de Marinho, que comprometeu o ex-diretor de Administração Antônio Osório Batista, indicado pelo PTB, e o ex-presidente dos Correios João Henrique, afilhado do PMDB, no esquema de fraudes em licitação.

Por sugestão do relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), a comissão deverá retomar na próxima semana a linha inicial de sua investigação sobre os Correios. Após ouvir o ex-presidente do Banco Popular Ivan Guimarães na terça-feira, Serraglio sugere que sejam chamados o ex-diretor de Operações dos Correios Maurício Madureira e o genro de Jefferson.

Empresário também participaria do esquema

Segundo integrantes da CPI, pela nova versão de Marinho, o empresário Arthur Wascheck, que confessou ter mandado fazer a gravação nos Correios, também participava do esquema e seria o responsável por intermediar os negócios.

As novas denúncias estão sendo investigadas pelo Ministério Público Federal, que pretende checar as informações antes de conceder a Marinho o benefício da delação premiada. A legislação que prevê o prêmio da redução de pena para o réu ou investigado que colaborar com as investigações se tornou uma constante desde que as denúncias de corrupção vieram à tona.

Além do de Marinho, a Procuradoria Geral da República já recebeu pelo menos outros dois pedidos de envolvidos no caso: do empresário Marcos Valério de Souza, suposto operador do mensalão, e do doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, condenado a 25 anos de prisão.

Benefício depende de parecer favorável

A decisão final sobre a redução de pena é da Justiça, mas depende de um parecer favorável do Ministério Público.

Advogados negam vazamento de informações

Marinho diz que não acusou Jefferson de comandar esquema

BRASÍLIA. No início da noite de ontem, preocupados com o vazamento dos depoimentos de seu cliente, os advogados de Maurício Marinho protocolaram um ofício na Procuradoria Geral da República no qual confirmam terem feito um acordo de cooperação com os procuradores que investigam o caso. No texto, Marinho reafirmou o compromisso de sigilo e informou que não assume qualquer responsabilidade pela divulgação do conteúdo de seus depoimentos. Disse ainda que contou tudo o que tinha falado na CPI dos Correios e que não acusou Roberto Jefferson ou outro parlamentar de comandar um esquema de corrupção.

Ao protocolar o requerimento, entretanto, o advogado Sebastião Coelho da Silva confirmou que o genro do presidente do PTB era presença constante nos Correios.

- Em seu depoimento, Marinho citou as várias visitas do senhor Marcos Vinícius aos Correios. Mas não posso falar porque seria quebra de sigilo.

E Jefferson ainda pode ter medalha

Alegando que o pai "não foi condenado por nada", a vereadora Cristiane Brasil, filha do deputado Roberto Jefferson (PTB), tentou fazer com que ele fosse homenageado com a medalha Pedro Ernesto, a principal comenda da Câmara Municipal do Rio. A homenagem estava prestes a passar por aclamação quando o vereador Edson Santos (PT) pediu para que a votação fosse nominal. Por falta de quórum, já que eram necessários 26 votos, a proposta voltará a ser analisada na terça-feira. Na sessão de ontem, 18 vereadores, na maioria de PFL, PSDB e PMDB, votaram a favor da homenagem. Os votos contrários foram de PT, PCdoB e do PPS.

Cristiane chegou a fazer um apelo:

- Meu pai não foi condenado por nada. Pelo que ele fez para o país, é merecedor da medalha.