Título: BURATTI USAVA NOME DE PALOCCI EM CONTATOS
Autor: Evandro Spinelli
Fonte: O Globo, 19/08/2005, O País, p. 13

Gravações e e-mails mostram que ex-assessor oferecia encontros de empresários com ministro

Transcrições de conversas telefônicas e e-mails obtidas pelo Ministério Público (MP) em quase dois anos de investigação mostram que Rogério Buratti, ex-assessor que envolveu o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em corrupção, usava o nome de Palocci para fazer contatos com empresários, muitas vezes usando a estrutura do próprio Ministério da Fazenda. Nas conversas, o assessor oferecia encontros dos empresários com o ministro. Muitos desses encontros teriam efetivamente ocorrido.

Numa das transcrições reveladas pela ¿Veja¿, um empresário de Ribeirão Preto, não identificado pelo MP, pede a interferência de Buratti para resolver um problema na Receita Federal. Sua empresa não conseguia obter certidão negativa de débito para participar de licitação no município. O empresário pede a ele que interceda junto à Receita e à Procuradoria-Geral da Fazenda para que o documento saia.

¿ Estamos com um problema aqui na Receita Federal. Será que você conseguiria alguém para dar uma fonada aqui? ¿ pergunta o empresário.

¿ Sei, qual é a urgência? É que eu não tenho como falar com ele hoje ¿ responde Buratti, segundo a ¿Veja¿.

O MP já decidiu enviar as transcrições das conversas ao Supremo Tribunal Federal (STF), que terá de decidir se cabe a abertura de inquérito contra o ministro. De acordo com a revista, há ainda um e-mail no qual Juscelino Dourado, atual chefe de gabinete de Palocci, pede, em nome do chefe, ajuda de Buratti para comprar um aparelho de espionagem telefônica.

Em depoimento sexta-feira ao Ministério Público de São Paulo, Buratti, que negociou redução de pena por confessar crimes e dar informações, disse que a empresa Leão & Leão pagou propina mensal de R$50 mil à Prefeitura de Ribeirão Preto, na gestão de Palocci, para manter contratos de coleta de lixo. O dinheiro, que teria sido pago de janeiro de 2001 a novembro de 2002, era repassado ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

Segundo a revista, nesse depoimento Buratti reconheceu que as expressões ¿ele¿, ¿mestre¿ e ¿chefe¿, usadas nas conversas grampeadas pela polícia, referem-se a Palocci. Nos diálogos grampeados, Buratti demonstra conhecer a agenda do ministro e organiza estratégias para se encontrar ou se comunicar com ele sem chamar atenção. Num dos diálogos, em 26 de julho de 2004, Buratti conversa com um funcionário da Leão & Leão sobre a presença de Palocci em Ribeirão Preto no dia seguinte, o que de fato ocorreu.