Título: DEFLAÇÃO PROLONGADA ALIVIA ORÇAMENTO FAMILIAR
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 19/08/2005, Economia, p. 25

Índices da FGV devem cair por 4 meses. Preço da cesta de compras do Rio recua e equivale a salário-mínimo

A empregada doméstica Marilane Lourenço já chegou a comprar cinco quilos do arroz da marca Príncipe por cerca de R$8 e, recentemente, conseguiu o produto por R$4,99. A queda acentuada deste e de outros preços, principalmente dos alimentos, vem sendo captada há três meses pelos índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV) e deverá se manter por pelo menos mais um mês, completando uma seqüência mais longa de deflação (taxa negativa) do que a verificada em 2003.

Entre os preços que mais estão puxando os índices para baixo estão os dos alimentos, como a farinha de mandioca, que caiu 11,19% no atacado, segundo o Índice de Preços no Atacado (IPA) da FGV. A queda já foi repassada para o varejo, segundo o Índice de Preços ao Consumidor do Mercado (IPC-M), que registou redução de 3,69% no valor do produto.

Sensação de alívio apesar da redução salarial

Os alimentos são responsáveis por cerca de 50% dos gastos mensais da família de Marilane, que passou a gastar R$50 menos do que há três meses, uma economia de aproximadamente 10% do salário. A sensação de alívio só não é maior porque a patroa dela, em dificuldades financeiras, vai reduzir o salário de Marilane para R$400 a partir de agosto.

- Estou usando o que economizei no supermercado para passear com as as crianças no fim de semana e para comprar uma roupinha - acrescentou.

Já para Ligia Porto e sua filha, Lilian Paiva, a sensação é de que os preços continuam subindo muito. Pertencentes à classe média, moradoras da Gávea, elas gastam cerca de R$700 com alimentos e R$500 com remédios, a maioria deles de uso contínuo.

A desaceleração dos preços também fez a cesta de compras - consumo médio das famílias residentes na cidade do Rio de Janeiro - ficar mais barata 0,54% em relação à semana anterior, segundo dados divulgados ontem pela Federação do Comércio do Rio de Janeiro. Com o valor de R$300,30 no período de 6 a 15 de agosto, a cesta ficou equivalente ao novo salário-mínimo de R$300.

O aumento do mínimo não deve ter força para provocar altas acentuadas nos preços. Para o coordenador de análises do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, Salomão Quadros, a deflação deverá permanecer ainda por pelo menos mais um mês, conforme indicam os últimos resultados do IGP-10, que ficou em -0,52% em agosto, e da segunda prévia do IGP-M, de --0,49%.

- Estamos esperando quatro meses seguidos de índices negativos, o que significará uma seqüência mais longa do que a de 2003, de três meses. Nas últimas décadas, só houve deflação mais prolongada em 1998, quando foram registrados seis meses de taxas negativas.

Na opinião de Quadros, a combinação de preços baixos e juros altos não significa que o país esteja no caminho da recessão. Para ele, a tendência é a economia continuar retomando o nível de atividade até o fim do ano.

inclui quadro: alimentos mais baratos