Título: Buratti usava o nome de Palocci para resolver problemas de empresários
Autor:
Fonte: O Globo, 21/08/2005, O País, p. 4

Ministério Público vai enviar documentos ao Supremo Tribunal Federal

Transcrições de conversas telefônicas e e-mails obtidas pelo Ministério Público em quase dois anos de investigação mostram que Rogério Buratti, ex-assessor que envolveu o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, em corrupção, usava o nome de Palocci para fazer contatos com empresários, muitas vezes usando a estrutura do próprio Ministério da Fazenda. Nas conversas, o assessor oferecia encontros dos empresários com o ministro. Muitos desses encontros teriam efetivamente ocorrido.

Numa das transcrições, reveladas pela revista ¿Veja¿, um empresário de Ribeirão Preto, ainda não identificado pelo Ministério Público, pede a interferência de Buratti para resolver um problema na Receita Federal. Como sua empresa não estaria conseguindo obter uma certidão negativa de débito, necessária para participar de uma licitação em Ribeirão Preto, o empresário solicita a Buratti que interceda junto à Receita e à Procuradoria-Geral da Fazenda para que o documento saia.

¿Estamos com um problema aqui na Receita Federal. Será que você conseguiria alguém para dar uma fonada aqui?¿, pergunta o empresário.

¿Sei, qual é a urgência? É que eu não tenho como falar com ele hoje¿, responde Buratti, de acordo com ¿Veja¿.

O Ministério Público já decidiu enviar as transcrições das conversas ao Supremo Tribunal Federal (STF), que terá de decidir se cabe a abertura de inquérito contra o ministro. De acordo com a revista, há também a transcrição de um e-mail no qual Juscelino Dourado, atual chefe-de-gabinete de Palocci, pede, em nome do ¿chefe¿, ajuda de Buratti para comprar um aparelho de espionagem telefônica.

Em depoimento sexta-feira ao Ministério Público de São Paulo, Buratti, depois de negociar a redução de pena por confessar crimes e dar informações, disse que a empresa Leão & Leão pagou propina mensal de R$50 mil à prefeitura de Ribeirão Preto, na gestão de Palocci, para manter contratos de coleta de lixo. O dinheiro, que teria sido pago de janeiro de 2001 a novembro de 2002, era repassado ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

Segundo a revista, nesse depoimento Buratti reconheceu que as expressões ¿ele¿, ¿mestre¿ e ¿chefe¿, utilizadas nas conversas grampeadas pela polícia, se referem a Palocci. Nos diálogos grampeados, Buratti demonstra conhecer a agenda do ministro e organiza estratégias para encontrar-se ou comunicar-se com ele sem chamar atenção. Em um desses diálogos, datado de 26 de julho de 2004, Buratti conversa com um funcionário da Leão & Leão sobre a presença de Palocci em Ribeirão Preto no dia seguinte, o que de fato ocorreu.