Título: Bingos: CPI investiga braço político da propina
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 21/08/2005, O País, p. 10

Senadores querem saber se R$231 mil apreendidos em envelopes serviriam para pagar mesadas a deputados

BRASÍLIA e RIO. Um documento em poder da CPI dos Bingos no Senado será o ponto de partida da comissão para investigar o braço político do esquema de corrupção ligado a empresários de jogos. O papel registra o resultado de uma operação da Polícia Federal guardada a sete chaves há um ano e seis meses e é a principal evidência material até aqui da existência do pagamento de propina do setor a políticos.

A apuração passou a ser prioritária na CPI depois que o advogado Rogério Buratti, ex-assessor do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, na prefeitura de Ribeirão Preto, denunciou que a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Rio e em São Paulo, em 2002, teria recebido dinheiro arrecadado ilegalmente em casas de bingo das duas cidades.

Três dias após vir à tona o escândalo Waldomiro Diniz, em 16 de fevereiro de 2004, agentes federais apreenderam R$231.617 em dinheiro vivo num apartamento em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O imóvel pertencia ao então presidente da Associação dos Bingos do Rio, José Renato Granado, conhecido como Zé Renato. O dinheiro estava em sete envelopes, com quantias diferentes, alguns com folhas de papel com a inscrição ¿movimento de caixa¿, o que de imediato levantou a suspeita de que se tratava de propina pronta para ser distribuída.

Também foram apreendidos disquetes, nove armas e mais de 1.500 cartuchos de diversos calibres.

A análise do material desencadeou uma investigação que, segundo fontes da Polícia Federal ouvidas pelo GLOBO, aponta para a existência de um esquema de pagamento de mesadas a deputados estaduais do Rio e a pelo menos um deputado federal já citado nas denúncias sobre o mensalão. A suspeita é de que, em contrapartida, eles apresentassem e votassem projetos de interesse do setor e atuassem para permitir o funcionamento do jogo ilegal.

Investigação está sob sigilo

Diversas pessoas já prestaram depoimento à Polícia Federal sobre o caso, entre elas Zé Renato, mas o conteúdo do inquérito não foi divulgado. Todas as provas constam de um processo na 5ª Vara Federal Criminal do Rio, mantido sob segredo de Justiça. Ao GLOBO, Zé Renato, que deverá ser chamado para depor na CPI dos Bingos, afirmou em nota que o imóvel onde foram encontrados os envelopes com dinheiro estava alugado na época da operação e que, por isso, não pode se responsabilizar pelo que foi apreendido lá.

¿Desconheço a origem, o conteúdo e a destinação de outros bens e objetos apreendidos pela Polícia Federal, cabendo essa responsabilidade ao inquilino¿, diz um trecho da nota, que não revela o nome do inquilino.

Zé Renato, no entanto, assume responsabilidade sobre as armas, que alega serem de uma coleção particular, comprovada por registro. Segundo o ex-presidente da Associação dos Bingos do Rio, elas não foram retiradas porque aguardavam autorização do Exército para transporte.

A Polícia Federal também investiga a ligação de Zé Renato com Waldomiro, que foi flagrado pedindo propina ao empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira para campanhas eleitorais quando presidia a Loterj. Na gravação que detonou o escândalo, Cachoeira chega a oferecer R$2,5 milhões para que Waldomiro retire Zé Renato do mercado de videobingo, que ele pretendia explorar.

COLABOROU Jailton de Carvalho