Título: DISCURSOS CONTRA A CRISE
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 21/08/2005, O País, p. 14

Desde o início da CPI dos Correios, Lula já falou em público 68 vezes

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem usado a comunicação direta com o povo, em discursos e comícios, como instrumento de reação à crise. Fala em público para destacar suas ações, mandar recados e reclamar dos adversários. Desde junho, quando começou a funcionar a CPI dos Correios, Lula já fez 68 discursos em diferentes ocasiões, de cerimônias oficiais no Palácio do Planalto e no Itamaraty até em viagens pelo Brasil. No total, em 2005, o presidente falou 174 vezes: 17 em janeiro, 23 em fevereiro, 18 em março, 28 em abril, 20 em maio, 19 em junho, 28 em julho e 21 em agosto.

Em 31 meses de governo, Lula ultrapassou os 700 discursos. Mas a cifra bate os 800 quando somados os programas quinzenais de rádio, o ¿Café com o presidente". Desde junho, quando Lula decidiu acelerar suas viagens pelo país, é comum ele fazer três ou até quatro discursos num único dia.

Foi assim no dia 10, quando Lula esteve em quatro cidades de Tocantins: Aparecida do Rio Negro, Palmas, Peixe e Gurupi. Na sexta-feira, foram três discursos num único dia. O presidente costuma discursar inclusive em ocasiões onde sua manifestação não está prevista, surpreendendo assessores e o cerimonial.

Em Aparecida do Rio Negro e Gurupi, por exemplo, Lula falou em palanques improvisados no meio de estradas. Segundo levantamento, desde o primeiro dia de governo já foram 772 discursos. O número sobe para 819 quando somados os 47 programas de rádio.

Assessores afirmam que Lula considera que falar é a melhor maneira para dialogar com a sociedade. Ele acredita que se comunica melhor ainda quando abandona os discursos previamente elaborados pelo ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e improvisa. Muitos ministros e assessores tentaram aconselhar Lula a não citar a crise em seus discursos e a ter cuidado com o tom, mas na hora do pronunciamento é o presidente que decide o que fazer.

¿ Não é uma questão de gogó. É um diálogo com a sociedade. Ele é um líder de massas ¿ observa o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (PT).

Já para a oposição a tática de discursar sem parar já está esgotada.

¿ A estratégia de falar já cansou e Lula ainda não acordou para isso. As metáforas são sempre as mesmas ¿ critica o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).