Título: Depois da tempestade, o silêncio
Autor: Evandro Spinelli
Fonte: O Globo, 23/08/2005, O País, p. 3

Promotores vão manter segredo sobre investigação relativa às denúncias de Buratti

Por determinação do procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Rodrigo César Rebello Pinho, os promotores de Ribeirão Preto anunciaram ontem que vão manter sigilo, a partir de agora, sobre as investigações envolvendo supostas fraudes em licitações para serviços de limpeza pública em prefeituras do interior de São Paulo. Não foi decretado sigilo no inquérito, mas os promotores, que na sexta-feira revelaram o teor do depoimento do ex-assessor Rogério Buratti contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disseram que não vão mais informar os passos seguintes das investigações.

¿ Isso decorre de uma estratégia de investigação. As diligências finais são de natureza sigilosa e a gente não pode divulgar sob pena de prejudicar as investigações ¿ afirmou o promotor Sebastião Sérgio da Silveira, um dos sete integrantes do Grupo de Atenção Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaerco).

Na sexta-feira, Buratti, ao prestar depoimento, envolveu Palocci num esquema de pagamento de propina. O ministro, disse Buratti, teria recebido R$50 mil por mês no período em que foi prefeito de Ribeirão Preto (janeiro de 2001 a novembro de 2002) para manter em dia o pagamento dos contratos de coleta de lixo, varrição de ruas e operação do aterro sanitário.

O dinheiro, de acordo com o depoimento de Buratti ao Ministério Público, seria recolhido pelo então secretário da Fazenda de Ribeirão Preto, Ralf Barquete Santos, e entregue ao à época tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

Palocci negou com veemência as acusações de seu ex-secretário de Governo. Santos morreu ano passado.

¿ O procurador-geral nos recomendou cautela daqui por diante no sentido de que nós devemos concluir as investigações o mais rapidamente possível e depois noticiar as nossas conclusões ¿ disse Silveira.

Promotores foram alvo de críticas

Os promotores de Ribeirão Preto foram criticados desde sexta-feira pela forma com que revelaram o conteúdo do depoimento de Buratti. Silveira foi uma espécie de porta-voz do grupo. Ele saiu duas vezes da sala do interrogatório para falar com os jornalistas. Buratti deu três depoimentos formais e depois foi libertado. Ele estava preso desde quarta-feira, acusado de lavagem de dinheiro e tentativa de destruição de provas.

Em nota ainda na sexta-feira, Palocci criticava Silveira pela atitude, segundo o ministro, indiscreta e ilegal. O promotor disse que ficou surpreso ao ouvir o nome de Palocci no esquema denunciado por Buratti.

¿ Assim que soube, para minha surpresa, da menção ao nome do ministro, imediatamente comuniquei ao procurador geral de Justiça. A orientação que nos foi dada era que, se o inquérito não está em sigilo, deveríamos cumprir com o princípio da publicidade que está na Constituição.

Silveira reafirmou que Palocci não é investigado no inquérito e que, por isso, a documentação não será enviada ao Supremo Tribunal Federal:

¿ O ministro não é investigado neste inquérito. Para que possamos enviar isso ao Supremo será necessário concluir que existe algum tipo de indício de comprometimento do ministro. E esse juízo não fizemos ainda.

Fontes ligadas ao Ministério Público de São Paulo informaram ontem que poderá ser pedida a quebra do sigilo bancário da empreiteira Leão & Leão, empresa que teria pago as propinas. O objetivo é identificar principalmente saques volumosos em dinheiro, que poderiam ser usados para o pagamento de propina a prefeitos e funcionários também de outras prefeituras, além de Ribeirão Preto.

Os promotores também vão se debruçar na investigação sobre as notas frias que supostamente seriam incluídas na contabilidade das empresas do grupo para justificar os saques. O esquema de compra de notas frias foi revelado por Buratti.