Título: ALÍVIO E CAUTELA NO PALÁCIO DO PLANALTO
Autor: Luiza Damé e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 23/08/2005, O País, p. 4

Lula acha que é cedo para comemorar reação do mercado

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu com cautela e alívio a reação positiva do mercado financeiro em relação à entrevista do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em que negou as acusações feitas pelo ex-assessor Rogério Buratti. Segundo palavras de Lula a ministros do gabinete da crise, é cedo para comemorações. No Planalto, o clima é de expectativa. A constatação é de que há um prolongamento da crise com o surgimento de fatos novos todas as semanas. A opinião geral é de que esses episódios já provocaram desgaste na imagem do governo.

Desde a noite de domingo está sendo avaliada a possibilidade de um pronunciamento de Lula em cadeia nacional de rádio e televisão. Estiveram na Granja do Torto os ministros Palocci, Jaques Wagner (Relações Institucionais), Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Ciro Gomes (Integração Nacional). O consenso é de que Lula não deve fazer um pronunciamento unicamente sobre a crise.

Parte dos ministros sugere que Lula aproveite um gancho positivo, como o anúncio da lei para combater a lavagem de dinheiro, para convocar uma cadeia de rádio e televisão. Segundo um assessor palaciano, Lula só deve falar se tiver um fato relevante ou o anúncio de algo concreto. ¿Não posso mais falar simplesmente para dizer que não tenho nada a ver com isso¿, argumenta o presidente.

Ontem, ele voltou a se reunir com o gabinete de crise no Planalto. Palocci comunicou ao grupo a repercussão no mercado financeiro, com queda do dólar e um bom desempenho da Bolsa de Valores. Mas disse que a mudança de posições na sexta-feira e ontem por causa do depoimento de Buratti movimentou cerca de R$2 bilhões.

Na avaliação de Palocci, se as especulações no mercado financeiro tivessem permanecido por alguns dias, teria sido negativo para a economia. Lula voltou a elogiar o bom desempenho de Palocci no dia anterior e chegou a manifestar uma satisfação pessoal.

A maior expectativa do governo é em relação ao depoimento de Buratti amanhã na CPI dos Bingos. Até agora o alívio no Palácio do Planalto se baseia no fato de ele não ter apresentado provas contra Palocci em seu depoimento ao Ministério Público, na sexta-feira. Palocci passou boa parte do dia ontem no Planalto e chegou a ser chamado de craque nos corredores palacianos. Mas assessores do governo também mostraram preocupação com as notícias de que o ministro teria omitido outros contratos da Leão & Leão com a prefeitura de Ribeirão Preto.

O presidente reiterou ontem a seus interlocutores que é preciso manter a economia blindada e determinou que os ministros acelerem as ações de governo para mostrar que não há paralisia diante das novas denúncias que atingem em cheio o coração do governo. Na avaliação de um assessor, acalmaram-se os nervos dentro do governo. O presidente avaliou de forma positiva a reação da oposição, considerada menos sangrenta e mais lúcida. A posição do PFL no Senado, por exemplo, é primeiro ouvir Rogério Buratti ¿ ex-assessor de Palocci e que acusa o ministro de ter recebido R$50 mil mensais de propina quando era prefeito de Ribeirão Preto.

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, elogiou a atitude de Palocci de vir a público para se defender das acusações. Para ele, a tranqüilidade do mercado financeiro no dia de ontem, com a bolsa em alta e o dólar em queda no fechamento dos negócios, deveu-se principalmente à atitude de Palocci.

¿ O ministro (Palocci) teve uma atitude positiva e a repercussão foi a melhor possível. Palocci esclareceu tudo o que precisava ser esclarecido. Espero que o tema se aquiete ¿ disse Furlan em evento promovido pelo Banco Latino-americano de Exportação (Bladex), ontem em São Paulo.