Título: LUZ MAIS CARA COM ERRO DA ANEEL
Autor: Monica Tavares
Fonte: O Globo, 23/08/2005, Economia, p. 21

Agência vai rever índice de satisfação. Light terá reajuste mais alto

BRASÍLIA. Criado para medir a qualidade do serviço prestado e compor o cálculo do reajuste das tarifas, o Índice Aneel de Satisfação do Consumidor (Iasc) será um peso extra no bolso do consumidor este ano. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou ontem que dois erros metodológicos na pesquisa referente a 2004 ¿ que foi divulgada há um mês e seria o parâmetro para a revisão tarifária em 2005 ¿ provocarão aumento maior da conta de luz deste ano.

Isso vale, inclusive, para a Light, maior distribuidora do Estado do Rio, que reajusta seus preços em novembro. O órgão regulador, porém, não sabe especificar o peso do índice no cálculo das tarifas. Auditoria realizada pela Aneel revelou distorções na base de dados e erro de amostragem na aplicação dos questionários aos consumidores atendidos pela Light.

Os erros podem ter influenciado as notas finais, tanto da companhia quanto da média geral, que em 2004 foram as piores da série histórica. Quanto mais baixa a satisfação do cliente, mais ele é beneficiado com um reajuste menor, como forma de punir empresa.

Isso porque o índice compõe o chamado Fator X, um item da tarifa que reflete ganhos de produtividade. Como as notas de 2004 deixarão de valer, serão usadas com referência as notas de 2003, que foram maiores. A mudança é boa para as distribuidoras, que terão direito a reajustes maiores nas tarifas.

Segundo avaliações preliminares da Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee), os prejuízos das empresas seriam de R$170 milhões, se fosse usado o Iasc de 2004. Com o uso das notas de 2003, os prejuízos das distribuidoras serão reduzidos para R$100 milhões.

Distribuidoras elogiam revisão do índice por reguladores

Desde a divulgação da pesquisa de satisfação deste ano, as empresas reclamavam do resultado final, alegando que o levantamento feito por elas apontava satisfação maior do consumidor. O diretor-técnico regulatório da Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee), Fernando Maia, elogiou ontem a revisão da Aneel, argumentando que nem sequer houve um blecaute para justificar tamanho desapontamento.

¿ A decisão foi correta. A Aneel tem outros instrumentos para punir as empresas que não apresentarem a qualidade exigida, não é via tarifa ¿ disse Maia.

O levantamento de 2004 foi realizado pela Datamétrica - Consultoria, Pesquisa e Telemarketing Ltda entre 6 de dezembro do ano passado e 17 de janeiro de 2005. Foram entrevistados 19.200 consumidores ao custo de R$467 mil. Em 2003, a pesquisa foi feita pelo Instituto Vox Populi.

O superintendente de Regulação de Comercialização de Eletricidade da Aneel, Ricardo Vidinich, explicou que no edital para contratar a Datamétrica o órgão regulador modificou a distribuição de entrevistas por número de municípios, que era usada nas pesquisas anteriores. Isso acabou gerando distorções no peso das cidades para o cálculo do índice e na comparação com anos anteriores. A metodologia anterior será retomada.

Além disso, na área da Light, a Datamétrica cometeu erros. Um deles foi enviar à pequena cidade de Carmo 142 questionários, contra 143 na capital. A empresa terá de refazer a pesquisa no mercado fluminense.

¿ O número de questionários respondidos no Rio de Janeiro tem que ser bem maior do que o de Carmo ¿ disse Vidinich.

Apenas quatro concessionárias já tinham usado o índice de satisfação de 2004: Escelsa (ES), Celpa (PA), Celesc (SC) e Iguaçu Energia (SC). Nessas quatro empresas, a Aneel vai fazer ajustes imediatos para usar os dados de 2003.