Título: NOBEL DE ECONOMIA CRITICA JUROS ALTOS
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 23/08/2005, Economia, p. 23

Joseph Stiglitz diz que política monetária impede crescimento do Brasil

SÃO PAULO. Em palestra a executivos de bancos, o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz fez ontem duras críticas à política econômica adotada pelo governo Lula. Segundo ele, a manutenção das altas taxas de juros impede que o Brasil alcance um crescimento robusto e cria um círculo vicioso, à medida que aumenta o serviço da própria dívida pública. Stiglitz afirmou ainda que a rigidez do sistema de metas de inflação não representa garantia de crescimento econômico e de redução das desigualdades sociais.

¿ Quando assumiu o governo, Lula tinha dois caminhos, ambos difíceis. O primeiro seria manter a ortodoxia e convencer o mercado de sua escolha, o que poderia levar à queda dos juros no futuro e ao cumprimento de uma agenda social. A outra opção, mais agressiva, seria mudar a estrutura econômica, deixando o país menos dependente de capital externo. Ele optou pela primeira, mas infelizmente a queda dos juros tem sido muito lenta ¿ disse Stiglitz, durante evento organizado pelo Banco Latino-americano de Exportações (Bladex).

Efeitos da crise política na economia ainda são mínimos

Mais tarde, durante entrevista, Stiglitz elogiou o governo da Argentina, que ¿resistiu às pressões¿ do Fundo Monetário Internacional (FMI) e dos bancos internacionais no reescalonamento da sua dívida externa. Ao ser perguntado se a Argentina ¿está do lado certo¿, o economista concordou, mas fugiu da pergunta sobre se o Brasil estava ¿no caminho certo ou errado¿.

¿ O júri ainda não decidiu ¿ disse, diplomaticamente.

Apesar de afirmar que foi expressivo o resultado das contas fiscal e externa do país, Stiglitz ressaltou que o bom desempenho da economia brasileira se deve, em grande parte, ao crescimento da economia internacional e à alta do preço de várias commodities exportadas pelo país. Ainda na sua avaliação, um crescimento de 3% ao ano não é suficiente para gerar mais empregos e combater a pobreza.

¿ A pergunta que fica é quanto tempo vai durar a confiança que o mercado tem no Brasil ¿ provocou.

Stiglitz, no entanto, minimizou os efeitos da crise política sobre a economia brasileira. Segundo ele, a preocupação com o equilíbrio econômico ¿já faz parte do espírito¿ do país, independentemente ou não de troca de ministros.

Para ele, o mercado financeiro não quer se preocupar com a crise política, porque tem interesse na manutenção do sentimento de estabilidade macroeconômica. Mas Stiglitz admitiu que tudo pode mudar, dependendo dos desdobramentos na CPI, porque o Brasil ainda é ¿vulnerável à percepção de fora¿.