Título: Reação imediata
Autor: Adriana Vasconcelos, Monica Tavares e Flávia B.
Fonte: O Globo, 22/08/2005, O País, p. 3

Palocci nega `com veemência¿ acusações de Buratti e Lula o mantém no Ministério

Em duas horas e meia de entrevista, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, rebateu com veemência ontem tanto as acusações de que teria recebido propina como prefeito de Ribeirão Preto como as de que o advogado Rogério Buratti tinha tido influência sobre sua agenda, intermediando a compra de grampos telefônicos a seu pedido ou garantido privilégios a empresários. Em demonstração de força política, avisou que, por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, permanecerá no cargo embora o tenha posto à disposição, e que a política econômica não sofrerá mudança de rumo. Palocci ressaltou ainda que considera a economia brasileira forte o suficiente para enfrentar eventuais mudanças no comando do Ministério da Fazenda:

¿ Estou muito seguro de que esse processo, atinja a quem atingir, não colocará os pilares e os fundamento da economia em risco.

Palocci admitiu que pouco antes do início da entrevista telefonara para Lula, deixando-o à vontade para tomar qualquer decisão sobre o seu futuro. Ressaltando não ter apego ao cargo e não considerar ninguém insubstituível ou acima de questionamentos, inclusive ele, anunciou a decisão de Lula:

¿ O presidente pediu que eu transmitisse a vocês que ele não deseja que eu saia do Ministério. Disse que não autorizará o meu afastamento, mesmo temporário.

Sem se recusar a responder qualquer pergunta, Palocci afirmou que não usará a sensibilidade da área que comanda para ficar no cargo. Afirmando não temer qualquer investigação, antecipou que se o Ministério Público quiser ter acesso aos seus sigilos bancário, fiscal e telefônico, não será necessária autorização judicial:

¿ Quero negar (as denúncias) com a veemência que elas merecem ser negadas. Não recebi e não autorizei que recebessem recursos para o diretório nacional do PT ou para outras instâncias. Não temo o que está por vir. Estou tranqüilo porque sei do que fiz e do que não fiz. Não estou dizendo que não sabia. Estou afirmando peremptoriamente que isso não ocorreu.

Ministro evita críticas a Buratti

Sem atacar o Ministério Público de São Paulo, o ministro deixou claro que não considerou correto o procedimento dos promotores estaduais que divulgaram trechos do depoimento de Buratti antes dele ser concluído.

Apesar das acusações feitas por Buratti, de que teria recebido propina de R$50 mil da empresa Leão & Leão entre 2001 e 2002 para engordar o caixa do diretório nacional do PT, o que negou categoricamente, o ministro poupou o advogado, que foi seu secretário de Governo no primeiro mandato de prefeito em Ribeirão Preto. Isso pode fazer com que Buratti recue.

¿ O advogado dele, o senhor Roberto Telhado, fala: ¿O Rogério se desesperou. Não suportou a algema, o uniforme horroroso de presidiário e o camburão¿. O advogado acredita que Buratti fez referências ao ministro deliberadamente, talvez para atender à exigência da negociação.

Palocci disse que o último encontro que lembra ter tido com Buratti foi em 2003, e que se distanciou do ex-secretário depois que ele foi afastado do cargo, mas manteve um relacionamento social. Disse não se sentir traído, mas pode vir a processá-lo.

O ministro admitiu que com seu chefe de gabinete, Juscelino Dourado, a relação de Buratti era mais próxima, já que os dois foram sócios.

Palocci desqualificou os trechos das gravações telefônicas apresentados pela revista ¿Veja¿ como provas da influência do ex-assessor e disse ter recebido do procurador-geral de São Paulo, Ribeiro Pinho, a garantia de que seu nome não havia sido citado.

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