Título: Para líderes da oposição, Palocci foi convincente
Autor: Isabel Braga, Jailton de Carvalho, Flávio Freire
Fonte: O Globo, 22/08/2005, O País, p. 5

Para deputado do PFL, Lula deveria se espelhar no ministro e dar resposta rápida para denúncias contra governo

BRASÍLIA, SÃO PAULO, BELO HORIZONTE e PORTO ALEGRE. As explicações do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foram consideradas convincentes tanto pelos líderes da oposição e quanto por aliados do governo. A oposição defendeu a continuidade das investigações das irregularidades denunciadas por Rogério Buratti, mas admite que o ministro acalmou o mercado e adotou uma boa estratégia de defesa ao conceder a entrevista.

O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, considerou Palocci convincente:

¿ Conhecendo o ministro Palocci como tive a oportunidade de fazê-lo na Comissão de Reforma Tributária, na Câmara, me parece difícil acreditar nas denúncias. Palocci é uma pessoa competente, cujo caráter e honorabilidade o fazem um dos políticos mais sérios em atuação dentro do governo federal ¿ afirmou, defendendo uma investigação completa dos fatos.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, elogiou Palocci:

¿ Ninguém é insubstituível. Mas ele é um ministro que tem se esforçado e tem procurado ajudar o governo.

O prefeito de São Paulo, José Serra, apontado como um dos candidatos do PSDB à Presidência da República, defendeu a continuidade de Palocci no cargo:

¿ É um dos homens com a credibilidade nesse governo e sua saída não faria bem.

O presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), acredita que a permanência de Palocci no cargo garante a continuidade do ritmo da economia, apesar do conservadorismo adotado:

¿ Ele é um ministro que conseguiu levar bem a área econômica até agora.

Para o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), Palocci respondeu a duas perguntas importantes para o mercado: a política econômica não muda, com ou sem ele, e que o ministro permanece no cargo. Foi hábil também ao evitar atacar Buratti e Berzoini e elogiar a oposição:

¿ Lula deveria se espelhar e mudar a tática de enfrentar a crise com bravatas e soberba. Não interessa se foi ou não convincente, pois as investigações continuam.

Os oposicionistas aproveitaram para cobrar do presidente Lula da Silva e dos demais petistas o mesmo padrão de resposta às acusações.

¿ O ministro fez bem em dar explicações frontais à nação. Com isso, ele deixa mal o presidente Lula, que se refugia em comícios, e os demais acusados do PT, que se escondem atrás de um falso estatuto do silêncio ¿ provocou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

¿ Palocci pelo menos enfrenta a entrevista e não fica buscando conspiração em tudo, como Lula ¿ acrescentou o líder do partido na Câmara, Alberto Goldman (SP).

O líder do PFL na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ), salientou, porém, que Palocci não hostilizou seu ex-secretário e nem explicou a ligação entre Buratti e seu chefe de gabinete, Juscelino Dourado.

Entre os petistas, a repercussão foi boa. O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), rebate às cobranças feitas pela oposição de que Lula e outros petistas deveriam agir como Palocci:

¿ Palocci foi atacado frontalmente e tinha controle de seus atos, por isso pode responder diretamente. O presidente Lula, como nenhum de nós, conhece aquilo que vem sendo noticiado sobre caixa-dois do PT. Fica mais difícil a defesa direta sobre algo que não se conhece.

O presidente do PT, Tarso Genro, elogiou em Porto Alegre a entrevista do ministro, ao mesmo tempo em que defendeu a continuidade da discussão do ¿futuro do modelo de desenvolvimento¿, sem que isso implique em ruptura ou proposta de mudança da economia do país.