Título: MAIS JURÃO
Autor: George Vidor
Fonte: O Globo, 22/08/2005, Economia, p. 13

O montante de juros reais ¿ já descontada a inflação ¿ sobre a dívida pública, acumulado em 12 meses, passará em agosto de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter as taxas em 19,75%. Esse jurão é mais do que tudo que o setor público deve economizar em 2005. No início do ano, o valor dos juros reais correspondia a 2,85% do PIB.

Portanto, se o Copom estiver exagerando na dose ¿ e na reunião de quarta-feira nada se sabia de acusações que envolveriam o ministro Palocci ¿ o custo já pode ser medido: mais de 2% do PIB (ou aproximadamente R$37 bilhões). Um volume de despesas dessa ordem não pode passar em branco, pelo impacto permanente que gera nas finanças públicas. É impossível não acreditar que tal custo seja irrelevante diante dos benefícios que as taxas de juros estariam trazendo para a população como um todo, com a queda da inflação.

Na verdade, os juros altos, mantidos por tanto tempo, comprometem a eficiência da economia ¿ a única forma que a humanidade conhece para promover o desenvolvimento, que concilia crescimento econômico com melhor distribuição de renda.

Em 2003, o Centro de Integração Escola-Empresa, fundado há mais de 40 anos no Rio para viabilizar a entrada de estudantes de ensino médio e superior no mercado de trabalho, como estagiários, concluiu que dos 188 mil inscritos no seu banco de dados cerca de 40% não tinham qualquer chance de serem selecionados pela seguinte razão: além de inexperiência, postura inadequada para o ambiente profissional. Ou seja, não sabiam sequer se expressar em uma entrevista individual ou escrever uma redação compreensível.

O CIEE mudou de estratégia e criou o Instituto de Competências e Cidadanias, com cursos que ajudam os postulantes a estágios a vencer a timidez, falar em público, preparar um currículo ou escrever redações ¿ alguns têm bolsas de estudo para estudar idomas. O quadro melhorou e, este ano, dos 200 mil que estão inscritos no banco de dados, caiu para 21% a taxa dos considerados ainda sem postura adequada para ingressar no mercado.

Marcos Lisboa foi um dos autores do projeto que estabelece regras para a privatização do IRB. Como assumiu a presidência da empresa para tirá-la da crise provocada por denúncias de corrupção política, o mercado está na expectativa de Lisboa leve o processo adiante.

Sem querer, fiz uma injustiça ao município fluminense de Rio Claro. O local escolhido pela ferrovia FCA para descarregar os grãos que virão da região Centro-Oeste para serem embarcados, depois, no Porto de Sepetiba é Getulândia ¿ um distrito de Rio Claro, e não de Barra Mansa.

A análise do solo para o Relatório de Impacto Ambiental está sendo feita para que o terminal obtenha a licença de operação. Rio Claro é um município essencialmente rural, inserido na Mata Atlântica, com 18 mil habitantes. Muitos moradores trabalham na construção de plataformas de petróleo em Angra dos Reis. Tem grande parte de seu território coberto por represas da Light. Abrigava um vilarejo colonial (São João Marcos), que acabou sendo demolido desnecessariamente na época do represamento: a área nem chegou a ser inundada.

Por Rio Claro passa uma estrada estadual, a RJ-149, que pode muito bem vir a se tornar uma rota alternativa de acesso ao Porto de Sepetiba para cargas transportadas por caminhões que têm origem ou destino no Vale do Paraíba (e que hoje representam 50% do movimento do terminal de contêineres do porto). A rodovia liga Rio Claro a Mangaratiba, que está a menos de 20 quilômetros do porto pela BR-101 (a Rio-Santos).

E, por falar nela, o adiamento das obras de duplicação do seu trecho inicial ¿ em terreno plano, com as faixas de domínio ainda não invadidas ¿ reforça a tese de que o governo federal realmente discrimina o Estado do Rio. Só que, neste caso, o governo está prejudicando não só o Rio, mas também o Brasil, pois o Porto de Sepetiba (que é federal) pode, de fato, contribuir para que o país não pare devido a um gargalo logístico.

Assim como São Paulo precisou de verbas federais para construir parte do seu anel rodoviário (iniciativa justa, porque o anel também é utilizado para se fazer a ligação entre as regiões Sul e Sudeste), no Rio é preciso fazer uma obra que ligue o porto a todas as rodovias federais.

O adiamento da obra veio junto com a tentativa de se transferir totalmente o DAC (que vai virar uma agência reguladora da aviação comercial) para Brasília. O DAC sempre foi no Rio e essa centralização excessiva em Brasília não faz sentido. Ainda mais que, depois dessa crise política, espera-se que a volúpia por ocupação de cargos públicos diminua no país.

E, para piorar esse quadro, a Petrobras resolveu que a exploração da Bacia de Santos (que começa em Cabo Frio e tem a maior parte dos blocos promissores em frente ao Rio de Janeiro) deve ser comandada por uma unidade que ficará sediada em São Paulo. Não há explicação plausível para essa decisão, a não ser agradar a São Paulo, com as implicações políticas que isso resulta.

A Petrobras já tem pesados investimentos em São Paulo, seja em refino, petroquímica e transporte, mas não tem lá infra-estrutura adequada para apoiar a exploração de petróleo no mar. De qualquer forma, São Paulo já receberá os royalties quando o campo de Mexilhão estiver produzindo (em linha reta, o campo está mais próximo do Estado do Rio, mas geograficamente pertence a São Paulo).