Título: AGOSTO DE MUITA TURBULÊNCIA CONDUZ INVESTIDOR PARA FUNDO DE RENDA FIXA
Autor: Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 22/08/2005, Economia, p. 14
Aplicação lidera captação da indústria até dia 17, com quase R$1,7 bi
Em meio à turbulência política e à volatilidade do petróleo e do dólar ¿ motivos de sobra para agosto ser um mês de susto para os investidores ¿ a captação líquida (depósitos menos saques) dos fundos de investimento continua positiva no período: até a última quinta-feira, tinha chegado a R$3,338 bilhões.
Mas grande parte do saldo positivo deve-se às aplicações atreladas à taxa de juros, consideradas um porto-seguro em períodos de turbulências, sobretudo pelos ganhos bastante razoáveis. Por isso, a categoria que liderou a captação foi a de fundos de renda fixa, com R$1,684 bilhão; seguida pela de fundos de curto prazo, R$1,137 bilhão; e fundos DI, com R$915 milhões. Na seqüência, aparecem os de previdência, com captação de R$396 milhões.
Na contramão, os fundos de ações e os multimercados
Os dados são do site Fortuna e mostram que, no mês, apenas os fundos de ações e os multimercados destoam dos demais. Os investimentos em ações perderam R$181 milhões e os multimercados, outros R$563 milhões.
¿ O resultado mostra um investidor bastante conservador e não poderia ser diferente. Não adianta dizer que os fundamentos econômicos do país são sólidos, porque a crise política é grave o suficiente para afetar a economia, se não for solucionada. Além do mais, as taxas de juros em relação à inflação devem deixar qualquer investidor muito feliz¿ destaca o economista da Fundação Getúlio Vargas(FGV) e autor ¿Sobrou dinheiro! Lições de economia doméstica¿, Luiz Carlos Ewald.
Ele lembra que, a cada dia útil, a dívida consolidada de União, estados e municípios repassa cerca de R$1,3 bilhão aos investidores de títulos públicos. São mais de R$260 bilhões pagos, por ano, em juros de dívida.
Instabilidade faz investidor mudar perfil de aplicação
Em termos de rentabilidade, os fundos de ações ainda lideram até o dia 17, com ganhos de 4,55%, seguidos pelos investimentos atrelados ao DI, com 0,88%. No ano, o ganho dos fundos de ações é o menor entre as seis categorias avaliadas: 3,92%.
¿ Os investidores locais, mais assustados com a crise política que os estrangeiros, têm aproveitado o interesse deles pela Bolsa para vender ações e migrar para a renda fixa ¿ explicou o gerente do BVA, Júlio Cardozo, confirmando um movimento de troca-troca de aplicações pelos investidores temerosos com a instabilidade dos mercados.
O resultado disso foi um avanço dos resgates sobre os depósitos nos fundos de ações de R$740 milhões no ano, ainda segundo o site Fortuna.
Apesar da compreensível cautela dos investidores, o economista Marcelo D¿Agosto, do site Fortuna, lembra que eles precisam considerar a cobrança do Imposto de Renda (IR) antes da mudança da aplicação. É que, embora não haja mais a cobrança da CPMF na conta-investimento, a tabela regressiva do IR (entre 22,5%, para aplicação até seis meses, e 15%, acima de dois anos) pode fazer uma diferença na rentabilidade.
¿ Ao trocar, ele passa a ter o investimento tributado pela alíquota máxima de novo ¿ lembra D¿Agosto.
No ano, as aplicações atreladas aos juros lideram a rentabilidade. Os fundos DI tiveram ganho de 11,13%; os de renda fixa, 10,88%; seguidos pelos de curto prazo (10,31%).
Quanto à captação da indústria, o resultado é positivo em R$15,4 bilhões no ano. Das seis categorias, quatro apresentam captação positiva. Por ordem, fundos de renda fixa, com R$30,270 bilhões; DI, R$9,532 bilhões; de curto prazo, R$4,872 bilhões. A captação dos fundos de previdência acumula R$3,189 bilhões.
No terreno negativo, além dos fundos de ações, estão os multimercados, com saídas de R$38,947 bilhões. Até porque estas modalidades são mais propensas a ter forte flutuação em períodos de instabilidade. Ainda segundo D¿Agosto, os investidores continuam a retirar recursos dos fundos multimercados e de ações, levando-os para a renda fixa.
No caso dos multimercados, além da rentabilidade aquém do desejado, as saídas devem-se também aos efeitos da instrução 409 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que entrou em vigor este ano e reclassificou os fundos de investimento, fazendo parte do que era contabilizado em multimercados passar para renda fixa.
Banco do Brasil mantém sua meta de captação
No Banco do Brasil, os fundos de renda fixa voltados para pessoas físicas, micro e pequenas empresas, de R$200 a R$500 mil, a captação subiu 7% de maio até 15 de agosto, atingindo R$50 bilhões em patrimônio líquido no ano.
No mesmo período, as captações dos fundos de ações subiram 1,5%, atingindo R$1,6 bilhão. No ano, somando-se todos as categorias de fundos disponíveis nas agências bancárias, a captação dos fundos somava R$65 bilhões até meados de agosto, e a previsão é de que totalize R$80 bilhões.
¿ Os fundos de renda fixa continuam a ser a grande estrela na captação, seguindo um movimento de todo o mercado, devido às taxas de juros elevadas. Mas não estamos constatando um movimento de migração dos investimentos de renda variável para renda fixa. Tanto que as duas modalidades continuam a ter uma captação líquida positiva ¿ informou Nelson Gonçalves Nascimento, gerente da divisão da área de investimento da diretoria de varejo do BB.