Título: SEM CASA, MAS COM OS VIZINHOS
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Fonte: O Globo, 22/08/2005, O Mundo, p. 15

Colonos querem manter famílias amigas por perto

Centenas de famílias despejadas dos 21 assentamentos da Faixa de Gaza preparam-se para um novo round da luta contra o plano de retirada do primeiro-ministro Ariel Sharon. Conduzidos temporariamente a hotéis espalhados por diversas cidades israelenses, os colonos anunciaram estar dispostos a brigar para que o governo encontre uma forma de reassentar todos os membros de cada comunidade numa mesma vizinhança.

Dezenas de ônibus chegaram ontem a Jerusalém trazendo famílias saídas do bloco de colônias de Gush Katif. Após horas de viagem e muito choro, a falta de espaço no hotel e de informação sobre o futuro acirraram ainda mais os ânimos de quem perdeu a casa há menos de 48 horas.

Após 25 anos vivendo em Neve Dekalim, a professora Tami foi retirada à força de sua casa na quinta-feira e chegou de madrugada a Jerusalém. Acompanhada do marido e dos cinco filhos pequenos, Tami viveu horas de impasse dentro do ônibus que a levou de Gush Katif para a cidade de Ashkelon, onde as forças de segurança não sabiam para onde encaminhá-la. A família acabou recebendo alojamento num hotel do centro de Jerusalém junto a outras 24 famílias de Neve Dekalim. Segundo ela, nenhum representante do governo apareceu no hotel para explicar aos colonos como, quando ou mesmo para onde poderão mudar-se.

¿ É uma vergonha que tenham nos expulsado sem nos dar solução! Já que nos tiraram de casa, queremos que ao menos os amigos estejam junto numa mesma vizinhança. Para superar o trauma, precisamos estar unidos. Já destroçaram nossas vidas, não podem destroçar também nossas relações pessoais ¿ desabafou.

Segundo estimativas do Sela, o comitê governamental de retirada responsável por orientar os colonos evacuados, pelo menos 918 famílias já estão vivendo em quartos de hotéis alugados por cerca de 1.000 shekels (US$223) por dia. Em entrevista ao Canal 2 da TV israelense, Shuli Levi, diretor do Sela, garantiu aos colonos que a permanência em hotéis deve durar apenas dez dias, até que se encontrem apartamentos que abriguem os ex-moradores de Gaza por alguns meses. Esse será o prazo em que deverão receber suas indenizações e ter novas casas construídas em outras pequenas comunidades.