Título: BATALHA FINAL EM GAZA
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Fonte: O Globo, 22/08/2005, O Mundo, p. 15

Forças israelenses começam hoje a esvaziar o único assentamento ainda habitado

JERUSALÉM

Israel começa hoje a retirada de colonos do último assentamento da Faixa de Gaza e, segundo os planos do governo, deve concluir o trabalho até o fim do dia. A missão dos soldados é esvaziar Netzarim, a única das 21 colônias da região ainda habitada. Amanhã, o governo pretende começar a desmantelar os quatro assentamentos da Cisjordânia previstos no plano de retirada do premier Ariel Sharon.

Ontem, forças israelenses completaram a retirada de Gush Katif, o principal bloco de assentamentos no sul de Gaza, ao esvaziarem as colônias de Atzmona, Katif e Slav.

De acordo com as autoridades, cerca de 95% dos 8.500 colonos judeus da região já foram retirados desde que o processo de evacuação começou na quarta-feira. Apesar dos protestos e reações, analistas consideram que a saída está sendo rápida e eficiente.

¿ Já podemos afirmar que o maior passo do plano foi executado, que é o esvaziamento do bloco de Gush Katif. Acredito que concluiremos sem maiores problemas os trabalhos no último assentamento de Gaza ¿ afirmou o porta-voz da polícia israelense, Avi Zelba.

Soldados israelenses também entraram ontem em Elei Sinai, Dugit e Nissanit, no norte de Gaza, para retirar as poucas famílias que ainda estavam no local após o prazo ter expirado no último dia 16.

No entanto, o reinício da operação de retirada após o shabat, dia de descanso dos judeus, que se inicia ao pôr-do-sol da sexta-feira e termina no anoitecer do sábado, não foi tranqüilo. Manifestantes do assentamento de Katif fizeram barricadas com feno, pneus e ferro-velho em que atearam fogo para dificultar a entrada de soldados. Dois colonos que haviam sido retirados, voltaram armados com rifles, atirando nos soldados, mas foram presos. O assentamento foi fundado há 20 anos e a maior parte de seus 330 habitantes se dedicava à agricultura em estufas e à indústria.

As famílias de colonos que não saíram voluntariamente permaneciam em suas casas à espera da chegada do Exército, logo após participarem de um ato em memória de uma de suas moradoras, Tali Hatchuel. Ela foi assassinada junto com suas quatro filhas em um ataque palestino quando viajavam no carro da família. A Faixa de Gaza é ocupada por Israel desde 1967.

¿ É com grande dificuldade que temos de seguir e continuar juntos. Vamos levar o espírito laranja conosco para onde formos ¿ disse o rabino Noah Vishonsky, referindo-se à cor da oposição à retirada.

Com a situação em Gaza sob controle, Sharon volta agora suas atenções para a Cisjordânia. Ontem, o premier conseguiu a aprovação do Gabinete à etapa final do plano de retirada, abrindo o caminho para que os soldados possam dar início ao desmantelamento de Sa-Nur, Homesh, Kadim e Gadim, quatro dos 120 assentamentos do território. Dois deles já estão vazios.

Colônias já estão sendo demolidas

Com a concordância palestina, as forças israelenses iniciaram ainda ontem a demolição das casas dos assentamentos. Os palestinos elogiaram a decisão de tirar 8.500 assentados de Gaza e 500 da Cisjordânia, mas temem que Israel planeje manter para sempre a maior parte dos outros assentamentos na Cisjordânia, comprometendo os planos de criação de um Estado palestino, que inclui aquela região. Um soldado israelense foi ferido de leve por disparos feitos por um palestino.

O governo dos Estados Unidos declarou ontem que espera que a retirada possa revigorar o processo de paz no Oriente Médio. David Welch, representante do Departamento de Estado, em visita à região, disse que Washington pretende ajudar palestinos e israelenses a concluírem a transição pacificamente.

¿ Queremos que esse processo de transição, muito importante para todo o Oriente Médio, seja feito em clima de segurança ¿ disse ele.