Título: MUDANÇAS NO TRATO, MAS MUITA RESISTÊNCIA AINDA
Autor: Fábio Vasconcellos
Fonte: O Globo, 21/08/2005, Rio, p. 19

Problemas que afetam imagem da corporação persistem

Na opinião das pesquisadoras, a presença das mulheres provocou entre os policiais a necessidade de conviver com a diferença. As policiais relataram que muitos PMs passaram a mudar o vocabulário em respeito à presença feminina e outros chegam a elogiar o trabalho das colegas. O estudo concluiu, no entanto, que ainda há muita resistência por parte de praças e oficiais. Segundo a pesquisa, as mulheres foram incorporadas para melhorar a imagem da Polícia Militar e acabaram alterando as relações entre os PMs. Os problemas mais graves da corporação persistem.

¿ As mulheres trouxeram a possibilidade dos laços amorosos para dentro dos quartéis. E, como o amor não escolhe a patente, o rigor das relações verticalizadas foi atravessado por outras modalidades de relação, como namoros e casamentos. Mas ainda é preciso acabar com problemas estruturais graves na PM como a corrupção e a violência policial ¿ analisa Bárbara Soares.

No Rio, mais que em outros estados, maioria é de oficiais

Se comparado com outros estados, o Rio tem menos PMs mulheres (4%), que a Bahia (12%) e o Pará (13%). Aqui, cerca de 40% delas são oficiais, contra 10% em outros estados. Para as pesquisadoras, a enorme discrepância dos números no Rio pode ser explicado pelo desinteresse da corporação de permitir que mulheres trabalhem nas atividades-fim (policiamento nas ruas). As policiais, por sua vez, apresentam interesses divergentes. De acordo com a pesquisa, muitas querem participar do confronto, mas outras preferem os cargos com menos riscos.

¿ Pilotava uma moto e fazia escolta de autoridades. Mas, se hoje precisasse, voltaria para as ruas sem problemas ¿ diz a major Bernadete, que cuida há dois anos da gerência de projetos de habilitação do Detran.

As pesquisadoras acreditam que um dos dilemas vividos pelas mulheres policiais é a necessidade de provar que têm capacidade igual à dos homens e, ao mesmo tempo, garantir o respeito dos colegas. Para as estudiosas, quando houver mais mulheres nos postos de comando e na cúpula das polícias, será possível avaliar se o sexo feminino poderá de fato modificar a PM.

¿ Enquanto a PM continuar fechada ao debate sobre questões de gênero, as mulheres se acomodarem na reprodução de estereótipos ou tentarem quebrá-los apenas individualmente, as mudanças serão superficiais e dificilmente a presença feminina causará impacto sobre aquilo que realmente precisa ser transformado: a cultura policial, as políticas de segurança pública, as relações da Polícia Militar com a população ¿ diz Bárbara.