Título: ENTRADA DE MULHERES NA PM MEXEU NAS RELAÇÕES DENTRO DOS QUARTÉIS
Autor: Fábio Vasconcellos
Fonte: O Globo, 21/08/2005, Rio, p. 19

Presença feminina a partir dos anos 80 flexibilizou hierarquias, diz pesquisa

Subia ela uma escadaria lá pelos anos 80 quando se descuidou e caiu. Ele, que a observava de longe, logo se apressou em socorrê-la. Levou-a ao médico, deu atenção, ofereceu ajuda. Daí em diante, o papo fluiu. Veio a amizade, o primeiro beijo, o namoro e, enfim, o casamento. A história poderia ser roteiro de filme, mas faz parte das pequenas mudanças que vêm ocorrendo dentro dos Batalhões da Polícia Militar após a entrada das mulheres, há mais de 20 anos.

A forte hierarquia que separava a major Bernadete Campbell e o sargento Martiniano Santos o amor tratou de unir. Tudo começou dentro do 2º BPM (Botafogo), depois do acidente na escada. A união do casal serve para ilustrar parte das conclusões da pesquisa ¿Mulheres policiais, presença feminina na Polícia Militar do Rio¿, feito pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania/Cândido Mendes (Cesec) e que se transformou num livro. As pesquisadoras observaram que a mulheres de coturno e farda vêm flexibilizando as relações entre os militares dentro dos quartéis.

¿ Mantivemos as hierarquias, mas trouxemos delicadeza para o quartel ¿ diz Bernadete, hoje cedida ao Detran.

A pesquisa do Cesec avaliou as mudanças ocorridas em vários batalhões do país a partir dos anos 80, quando as mulheres começaram a entrar na PM. No Rio foram entrevistadas policiais que falaram sobre a profissão, o medo e os direitos humanos. A socióloga Bárbara Soares, uma das autoras da pesquisa, destaca que a presença feminina está trazendo mudanças, porém o baixo número de policiais mulheres (cerca de 1.500 no Rio) ainda não provocou uma transformação profunda na PM.