Título: GOVERNO CRIA SISTEMA PARA TER DADOS PRECISOS
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 21/08/2005, Economia, p. 29

Províncias estariam inflando números que diferem dos oficiais

A discrepância nos números do PIB da China foi em parte solucionada em janeiro deste ano, quando o governo começou a operar um novo sistema de apuração de dados macroeconômicos. Pequim decidiu mandar seu próprio exército de 200 mil pesquisadores para as províncias, para coletar as principais informações para cálculo do PIB. Muitas estatísticas, no entanto, ainda são enviadas pelos governos locais, e a distorção permanece.

O jornal de língua inglesa de Hong Kong ¿South China Morning Post¿ publicou há duas semanas uma polêmica matéria em que mostra que a soma dos PIBs de cada província, cidade e região autônoma da China no primeiro semestre não bate com o resultado geral divulgado pela ANE. A soma dos PIBs das províncias daria algo próximo de 8 trilhões de yuan (ou cerca de US$996 bilhões), bem acima dos 6,7 trilhões de yuans (US$827 bilhões) anunciados pelo governo de Pequim.

¿O governo central deve introduzir um sistema único de coleta de dados para evitar confusões¿, afirmou ao jornal o pesquisador Liu Pinan, presidente do Instituto de Pesquisa Macroeconômica da Academia de Ciências Sociais de Guangdong.

Um dos precursores das denúncias de que os números de crescimento da China podem não corresponder à verdade é o professor de Economia e História da Universidade de Pittsburgh, Thomas Rawski. Seu trabalho mais recente, ¿Measuring China GDP Growth: where do we stand?¿ (Medindo o crescimento do PIB da China: onde nós ficamos?), de 2002, mostra que a coleta de dados estatísticos na China sofre de dificuldades técnicas e manipulações políticas.

Estabelecimento de metas pode ter causado distorções

¿A maior falha técnica vinha sendo a ausência de instrumentos que permitissem medir o acelerado crescimento do emergente setor privado e de alguns ramos do setor de serviços. Esse problema continua, ainda que em escala menor. Mas a partir de 1998, o problema maior é que o próprio governo estabeleceu como meta um crescimento anual mínimo de 8% dizendo que esse alvo era uma grande responsabilidade política. O resultado é que isso gerou um exagero nos índices, como não se via na China desde o famigerado Grande Salto Adiante¿, diz Rawski, em seu estudo.

O governo chinês se esforça para aumentar a credibilidade de suas estatísticas. Mas os especialistas sabem que, num país onde a falta de transparência é crônica, ainda há muito o que melhorar. (Gilberto Scofield Jr., correspondente)

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