Título: BURATTI: CPI COMEÇA A ANALISAR CONTAS
Autor: Alan Gripp, Soraya Aggege e Rodrigo Rangel
Fonte: O Globo, 24/08/2005, O País, p. 13

Comissão cobrará do advogado explicações sobre movimentações suspeitas

BRASÍLIA. Quando retornar à CPI dos Bingos, o advogado Rogério Buratti terá que dar explicações aos senadores sobre movimentações suspeitas reveladas pelos primeiros dados da quebra de seu sigilo bancário. O mapa das operações financeiras realizadas por Buratti, obtido pelo GLOBO, mostra por exemplo que ele repassou R$290 mil ao corretor Claudinet Mauad, preso semana passada com Buratti pela suspeita de participação num esquema de lavagem de dinheiro.

Segundo os extratos bancários em poder da CPI, o dinheiro foi descontado na boca do caixa com nove cheques de uma conta de Buratti no Banespa. Todos no mesmo dia: 29 de outubro de 2004. A CPI desconfia que o pagamento foi fracionado para evitar a intervenção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que, por lei, é informado das operações com valores acima de R$100 mil. Todos os cheques de Buratti são inferiores a esse valor.

Negócios em Ribeirão Preto esquentariam dinheiro

O Ministério Público suspeita que o corretor Claudinet Mauad intermediou negócios de Buratti em Ribeirão Preto envolvendo compra e venda de fazendas e a aquisição de uma empresa de ônibus na região oeste de São Paulo. Os negócios teriam o objetivo de esquentar dinheiro obtido de maneira ilícita. Buratti é acusado por diretores da multinacional GTech do Brasil de tentar extorquir R$6 milhões da empresa para garantir a renovação de um contrato com a Caixa Econômica Federal.

Os dados preliminares do sigilo bancário de Buratti revelam que ele movimentou entre 2003 e 2004 mais de R$1 milhão. A análise inclui apenas duas de suas cinco contas que tiveram o sigilo quebrado pela CPI dos Bingos. Entre as operações que chamaram a atenção dos técnicos da CPI, está um depósito em dinheiro de R$300 mil também na conta do Banespa no dia 16 de agosto de 2004. A CPI vai investigar a origem do depósito.

Pagamentos de alto valor feitos por Buratti também serão alvo da comissão. No dia 29 de agosto de 2003, ele passou dois cheques, de R$115 mil e R$20 mil, para um homem ainda não identificado pela CPI. O repasse foi feito dois dias depois de Buratti receber dois depósitos que totalizam R$148 mil.

Outros cheques que a empresa de Buratti, a Buratti e Siqueira Associados, emitiu em novembro de 2002 caíram no pente-fino da CPI. Entre eles, está o de R$72.900, pago a seu irmão, Renato Buratti, que segundo depoimento do advogado, mais tarde assumiu o controle da empresa. A CPI investiga se Buratti usava o irmão como laranja.

Segundo os promotores que investigam Buratti em Ribeirão Preto, o advogado tinha movimentações financeiras vultosas e teria comprado as fazendas e a empresa de transporte com dinheiro vivo. Encurralado pelas investigações, Buratti acabou acusando o ministro Antonio Palocci de receber propina da empresa Leão Leão, da qual foi presidente, e repassar ao PT.