Título: Ex-presidente do Banco Popular recolheu doações
Autor: Evandro Éboli e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 24/08/2005, O País, p. 14

Ivan Guimarães diz à CPI dos Correios que arrecadou R$24 milhões com empresários, 61% do declarado ao TSE

BRASÍLIA. O ex-presidente do Banco Popular do Brasil Ivan Guimarães atuou como um dos principais arrecadadores de recursos para a campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Em depoimento ontem à CPI dos Correios, Ivan revelou que gerenciou o trabalho de levantar recursos junto a empresários para os gastos da campanha. Ele contou à CPI que, com o trabalho, foram arrecadados cerca de R$24 milhões, doados por cem empresários. Os recursos equivalem a 61% do total declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Na prestação de contas oficial, o PT informou ter arrecadado R$39,3 milhões, sendo R$21 milhões registrados em nome do candidato Lula e o restante pelo comitê nacional da campanha presidencial.

Amigo de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, Guimarães disse que vai sair do PT, mas não deu explicações. Ele contou ter elaborado um cadastro com seis mil empresas e os principais executivos delas. Esses empresários receberam kits da campanha ¿ caixa de papelão vermelho, com estrela do PT e uma fita de vídeo com depoimentos de Lula e do vice José Alencar.

Gastos maiores com publicidade

Ele disse que metade dos diretores do Banco do Brasil era filiada ao partido. Ivan Guimarães presidiu o Banco Popular entre outubro de 2003 e abril de 2005. Afirmou que sua indicação não foi política, mas que foi contratado por ser especialista no mercado de cartão de crédito. Ele foi levado à instituição pelo então presidente dela, Cássio Kasseb. O Banco Popular é uma subsidiária do Banco do Brasil que oferece microcrédito à população mais carente. Segundo ele, há 1,6 milhão de clientes.

O depoimento de Ivan Guimarães não convenceu os integrantes da CPI, que não acreditaram na versão que ele deu para o fato de o banco gastar mais com publicidade do que propriamente com recursos para microcrédito num período entre 2003 e 2004. A campanha do banco foi feita pela DNA, agência de propriedade do empresário Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão. A agência recebeu, nesse período, R$29 milhões, enquanto os recursos para serem usados propriamente no programa eram de R$21 milhões. Ele disse que foi usado mais dinheiro em campanha para atrair o público-alvo.

¿ Fazia parte do plano de negócios. No início, o investimento foi maior em publicidade. O objetivo era massificar o programa, ampliar a base de clientes trazer a população não bancalizada para o sistema financeiro. Esse objetivo foi atingido.

Para o relator do CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), Ivan não convenceu.

¿ Ele deu poucas explicações. É mais um depoimento que pouco acrescentou

Guimarães jogou toda a responsabilidade pela contratação da empresa de publicidade para o Departamento de Marketing do BB, que foi comandado por Henrique Pizzolato. Ele disse que reuniu-se várias vezes com Marcos Valério e que discutiram política.

¿ Ele tinha interesse em fazer campanhas para o PT em 2004 ¿ afirmou o ex-presidente do Banco Popular.

Ele também confirmou que a empresa Lumens Serviço de Infraestrutura, de Boanerges Freire, foi contratada para prestar serviços ao Banco Popular. Boanerges é casado com Patrícia Valente, irmã de Mônica Valente, esposa de Delúbio Soares. Osmar Serraglio disse que a contratação da empresa foi irregular e sem licitação.