Título: CONSUMIDORES TROCAM GÁS DE COZINHA POR LENHA
Autor: Monica Tavares
Fonte: O Globo, 24/08/2005, Economia, p. 25

Mais barata, a madeira já responde por 32% da energia usada nos lares brasileiros, apesar do impacto ambiental

BRASÍLIA. Os brasileiros estão trocando o botijão de gás liquefeito de petróleo (GLP) pela lenha como combustível. De acordo com estudo do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE) divulgado ontem, entre 2000 e 2005, a participação do GLP na energia consumida nos lares brasileiros caiu de 31% para 27%, enquanto a lenha subiu de 32% para 38% no mesmo período.

A pesquisa foi realizada com base no Balanço Energético do governo. Segundo o consultor Adriano Pires, que apresentou o estudo, a lenha tem uma participação na energia consumida pelas residências superior, até mesmo, à eletricidade, que representa 31,6% do total utilizado. Nesta conta entram ainda o gás encanado e o natural, o querosene e o carvão vegetal. A presença da madeira é crescente desde 2001, ano do racionamento.

Isso não quer dizer que haja mais residências que utilizem lenha. Mas indica que a lenha vem sendo cada vez mais incorporada ao cotidiano das casas, somando-se ao GLP como fonte de energia, especialmente para baratear custos.

¿ A lenha é um produto barato, não há nenhum controle sobre o consumo residencial. Os desmatamentos são grandes e descontrolados, e o produto não tem impostos ¿ argumenta o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de GLP (Sindigás), Sergio Bandeira de Mello.

Três fatores são apontados como motivos para a substituição ou complementação: empobrecimento da população, aumento do peso dos impostos no preço do botijão de gás e rigidez do programa Vale-gás. Neste caso, há anos o valor está congelado em R$7,50. Quando foi criado, representava 50% do preço do GLP, que custa mais de R$30 atualmente.

Além disso, entre junho de 2004 e o mesmo mês deste ano, houve um aumento do peso dos impostos (PIS/Cofins, ICMS) no preço final do GLP, de 21% para 22%. Ao longo do tempo, essa fatia vem aumentando. Os números foram apresentados durante o Fórum do Sindigás, que está preocupado em ampliar o mercado.

¿ O alcance do vale precisa ser revisto. O GLP vem perdendo espaço para a lenha, o que não é adequado em termos ambientais ¿ afirmou Bandeira de Mello.

Os empresários defenderam alterações na legislação, que hoje impede que o GLP seja usado como fonte de energia nas indústrias. Isso porque as leis são de 1990, quando o Brasil importava 40% do que consumia. Este ano, as importações de GLP não passarão de 6% do consumo.

As alterações dependem só de regulamentação da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Os distribuidores do produto querem fazer com que o GLP seja uma alternativa ao gás natural no setor produtivo. A revisão da tributação sobre o GLP é outra reivindicação do setor. Isso tenderia a aumentar o consumo residencial, mas o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, afastou ontem esta possibilidade.