Título: CARACAS EXIGE AÇÃO DOS EUA CONTRA `DECLARAÇÃO TERRORISTA¿
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 24/08/2005, O Mundo, p. 29

Segundo Chávez, `pastor deveria falar de vida¿

HAVANA e CARACAS. Tentando demonstrar desdém pelas declarações de Pat Robertson, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse ontem desconhecê-lo. Enquanto isso, o governo venezuelano e partidários de Chávez reagiram com indignação e disseram que as declarações foram terroristas.

¿ Não sei quem é esta pessoa, não a conheço. Agora, que opinem, não me importa ¿ disse Chávez, no aeroporto de Havana, em Cuba.

Em declarações feitas enquanto se dirigia para o avião, Chávez ironizou Robertson, depois de se despedir do presidente Fidel Castro com um abraço.

¿ Já que ele é um pastor, deveria falar da vida, não da morte.

A embaixada venezuelana em Washington, no entanto, exigiu que a Casa Branca condene energicamente as declarações do pastor.

¿ Os EUA não podem permitir que seus cidadãos usem seu território para incitar o terrorismo e o assassinato de um presidente eleito democraticamente ¿ disse o embaixador Bernardo Alvarez.

O vice-presidente venezuelano, José Vicente Rangel, afirmou que ¿seria uma hipocrisia imensa¿ se o governo americano não respondesse às declarações ¿eminentemente terroristas¿ do pastor. Ele disse que a Organização dos Estados Americanos (OEA) prevê sanções contra pessoas que incitem o assassinato de chefes de Estado.

¿ Sabemos que a mensagem obedece a interesses sórdidos arraigados na sociedade e no governo dos EUA. Isso explica a preocupação da Venezuela para preservar a vida do presidente Chávez ¿ disse Rangel, que tachou as declarações de ¿pouco cristãs.¿

Nos últimos meses, Chávez tem aumentado o tom de suas críticas aos EUA, e tem tomado medidas de enfrentamento. No domingo, em seu programa de TV dominical e ao lado de Fidel, Chávez respondeu às acusações americanas de que os dois países estariam desestabilizando o continente:

¿ Os EUA é que desestabilizaram sempre nossos países e depois vêm dizer que nós é que fazemos isso.

Em abril, o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, fez visitas a vários países da América do Sul, bem no momento em que a Venezuela completava a compra de cem mil fuzis da Rússia. Caracas considerou a visita inoportuna e disse ter o direito soberano de comprar armas para sua defesa.

Porém, o ar de confronto ficou ainda mais claro em duas outras iniciativas de Caracas. Em dezembro, Chávez convocou o continente a participar da Alternativa Bolivariana para as Américas, a Alba, uma clara contraposição à Alca (Acordo de Livre Comércio das Américas) proposta pelos EUA. Nos últimos dias, Chávez fechou contratos de construção de refinarias petrolíferas em Cuba, prometeu emprestar petróleo para o Equador e viajou para a Jamaica para fechar outros acordos.

Na frente das relações públicas, a Venezuela tem a maior parte da Telesur, um canal de notícias que se propõe a dar ¿a versão verdadeira dos fatos¿, para se contrapor a canais como a CNN em espanhol. A partir do mês que vem, o canal já fará transmissões 24 horas por dia.