Título: MISSÃO BRASILEIRA ADOTA CAUTELA EM LONDRES
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 24/08/2005, O Mundo, p. 30

Representantes do governo dizem não ter motivos para crer que polícia escondeu fatos sobre morte de Jean

LONDRES. No primeiro dia de sua visita, a missão do governo brasileiro que passará a semana em Londres acompanhando as investigações da morte de Jean Charles de Menezes adotou um tom cauteloso, e esteve longe de criar o incidente diplomático previsto pela mídia britânica. Em entrevista coletiva na Embaixada do Brasil, as autoridades disseram não ter motivos para acreditar que a Scotland Yard escondeu fatos, acusação que paira sobre a corporação desde a divulgação, semana passada, de detalhes sobre a operação de 22 de julho na estação do metrô de Stockwell que contrariam a versão da polícia.

A missão é formada por Wagner Gonçalves, subprocurador-geral da República; Manoel Gomes Pereira, diretor do Departamento de Brasileiros Residentes no Exterior do Itamaraty; e Márcio Garcia, diretor-assistente do Departamento de Cooperação Internacional do Ministério da Justiça. Eles falaram à imprensa horas antes de um encontro com a Comissão Independente de Reclamações sobre a Polícia (IPCC), que investiga o caso de Jean. Pereira se disse satisfeito com as explicações dadas pela Scotland Yard num encontro terça-feira do qual participou o comissário Ian Blair.

¿ Até o momento, não temos motivos para acreditar que houve tentativas de abafar o caso. Mesmo o atraso na entrega do caso à IPCC estava ligado às suspeitas que existiam com base na legislação antiterrorismo ¿ disse Pereira.

Missão não reforça pedido de inquérito público

O diplomata afirmou que outros representantes brasileiros virão a Londres no decorrer das investigações. Ele desmentiu rumores de que a missão foi enviada devido às novas revelações sobre o caso. Segundo ele, a viagem fora previamente combinada entre os ministérios de Relações Exteriores brasileiro e britânico. No entanto, as autoridades manifestaram o desejo de ter acesso às gravações das câmeras de segurança de Stockwell no dia da morte de Jean. A polícia alega que elas não existem devido a falhas técnicas no equipamento, mas segundo jornais britânicos, fontes contaram uma história diferente.

Garcia disse ter confiança no trabalho da comissão independente e não reforçou o pedido da família de Jean de que seja aberto um inquérito público sobre o caso.

A IPCC anunciou ontem que sua investigação estará concluída até o final de dezembro, mas os resultados só deverão ser anunciados em fevereiro. A comissão indicou que poderá recomendar um processo disciplinar ou criminal contra a polícia de Londres, mas não deverá fazer pronunciamentos sobre as investigações.

Os integrantes da missão brasileiros se encontraram ontem com Alessandro Pereira, primo de Jean. Hoje, vão se reunir com representantes do equivalente britânico à Procuradoria-Geral, com membros da Coroner¿s Court, instituição legal que investiga mortes não-naturais, e com a advogada da família de Jean, Gareth Peirce. Um dos pontos a serem discutidos é a oferta de US$27 mil feita pela polícia londrina aos pais de Jean. Pereira não se juntou àqueles que consideraram a oferta inoportuna:

¿ Fomos informados pela polícia de que se tratava apenas de uma primeira ajuda, não de indenização à família, que de maneira alguma estaria impedida de lutar por seus direitos na Justiça.